"Para as grandes corporações o lucro é apenas um objetivo secundário, uma vez que o primário é a manipulação e controle das mentes do seu cativo público alvo..."
Há em nossos dias uma espécie de planejamento antecipado que determina o ciclo de vida útil de cada bem durável que é colocado à venda. E isso quer dizer que já saem das linhas de montagens das fábricas com o dia do seu fim decretado, quando deverão ser substituídos por modelos iguais em utilidade, mas diferentes em estilo; quer dizer, design e aparência.
E embora o modelo anterior ainda seja capaz de atender plenamente às demandas do usuário, todo um condicionamento mental habilmente planejado se encarregará de convencê-lo do contrário. É o princípio da obsolescência planejada, cujo objetivo por trás da campanha é induzir o comprador a acreditar que ele precisa do novo modelo.
Talvez o grande sonho das indústrias de produção em massa seja a criação de um material capaz de ser programado para se autodestruir às vésperas do lançamento da campanha de promoção da versão mais recente de cada novo produto. Mas, enquanto isso não acontece, a máquina de vendas, a cada nova temporada, torna-se ainda mais eficiente na sua estratégia de convencer o consumidor de que ele está desatualizado ou deslocado, forçando-o a trocar seu velho, porém ainda funcional acessório, por outro novinho em folha.
Se um produto funciona e se torna popular em consumo, está aberto o caminho para a temporada de atualizações sem fim, onde o novo se torna velho tão logo o comprador o tenha em mãos. Eis a frase de um gerente de novos produtos de uma grande indústria e que sintetiza bem o que pensam sobre o consumo: “O estilo é capaz de destruir completamente o valor de um novo modelo, embora sua utilidade permaneça a mesma...”
“Novas necessidades precisam ser criadas todos os dias ou estaremos perdidos...”, frase enfática de um consultor de novos produtos.
Os meios propagadores do consumo em massa não estão preocupados com o bem estar de quer que seja, já que seu objetivo é apenas escoar as bugigangas que saem de suas linhas de produção. Lucro para eles é importante, mas ter o controle sobre seus clientes tornou-se uma verdadeira doutrina espiritual.
Conhecedores que são da natureza humana sabem como criar novas carências que poderão, ao longo do tempo, se transformar em outras tantas. A técnica é simples: depois de criado um hábito, o segredo é reforçá-lo todos os dias. É como um vício, que depois de condicionar o indivíduo, precisa ser reciclado periodicamente para que seu hospedeiro não desenvolva resistência ao mesmo.
Para eles, o homem angustiado e eternamente insatisfeito não é uma novidade. E essa condição, na verdade, representa uma oportunidade para infinitos negócios, motivo pelo qual o conceito “insatisfação” é reforçado a cada nova estação ou ocasião.
Ao criar centenas de filmes para promover seus produtos, a indústria do entretenimento voltada para o público infantil descobriu um novo mercado. A ideia de criar fantasias completas e heróis em formato de desenho animado era grandiosa e fantástica, e se desse certo, teriam pela frente um mercado antes quase ignorado.
A abordagem era simples: Primeiro criariam as séries animadas, uma mídia de grande apelo emocional sobre as crianças, e estas seriam distribuídas às estações de televisão de todo o mundo a custos tão baixos que seria quase impossível a recusa em tê-los na grade de programação. O argumento para a promoção dos seriados era de que teriam um conteúdo educativo e edificante para todas as crianças.
Havia apenas um problema: na época, entre as redes de televisões não existia a atual cultura dos programas infantis matinais com apresentadores jovens em cima de atraentes palcos, um modelo já consolidado em nossos dias. E isto era fundamental como veículo ou picadeiro para a exibição desses filmes. “Um animal bruto, depois de adequadamente domesticado, torna-se incrivelmente fácil de amestrar...”
Não estavam sozinhos, pois logo outros segmentos viram naquela iniciativa a oportunidade para criação e ancoragem de novos nichos de mercado, como produtos alimentícios, jogos, roupas, brinquedos e acessórios infantis jamais imaginados. Assim, a criança ganhou um status que antes, no mundo corporativo do consumo, pertencia apenas aos adultos.
Coleções exclusivas de roupas, alimentos personalizados, publicações dirigidas, colônias de férias, pacotes de viagens, linhas especiais de cartões de crédito, poupança programada, fundos de investimentos para financiar estudos no futuro, enfim, uma linha de produtos que nunca mais parou de crescer.
Atualmente há uma transformação evidente nas formas de consumo e o tempo de duração de cada produto que chega ao mercado tem o firme propósito de preparar o terreno para o seu sucessor. Já chega às prateleiras das lojas com o dia do seu fim decretado. Isso não significa o fim de sua utilidade, mas a data a partir da qual seus possuidores deverão ser alertados para a necessidade de troca.
É uma abordagem psicológica, e mesmo que o objeto esteja em perfeitas condições de uso, psicologicamente, a máquina de vendas irá se encarregar de torná-lo indesejado na mente do consumidor, decretando sumariamente sua obsolescência ou funeral. Trata-se de uma decisão planejada, e um produto abrirá caminho para os novos modelos ou as atualizações sem fim que virão no seu encalço.
A cor da moda, se antes era uma exclusividade da indústria do vestuário feminino, há muito tempo seu domínio se estendeu às outras áreas. Os objetos mudam de cor de acordo com as estações do ano. E quando meia dúzia de consultores, os principais influenciadores por trás da gigantesca indústria de criar novas tendências de consumo se reúnem para decidir o que é ou não estético no modo de vida das pessoas, ali também já fica acertado quanto tempo esse novo modismo, ideia ou comportamento, deverá permanecer em atividade ou reverberando na mente do público cativo.
É a deixa para que os criadores de necessidades testem suas novas abordagens. E assim começa a temporada de lançamentos de novos produtos.
Mas um produto não precisa ser novo de fato para tornar outro obsoleto, e a maioria, não é. Basta a inclusão de um pequeno detalhe no design, uma mudança nos padrões de cores ou no nome, ou mesmo a inclusão de um item desnecessário. Desse ponto em diante o marketing irá se encarregar de convencer seus sectários, o quanto se tornarão infelizes, caso insistam em continuar com o modelo ou padrão antigo.
Mas, nada supera a euforia coletiva quando a intenção é a rápida disseminação de uma ideia. Esta é a força motriz para que os novos produtos, chegando ao mercado, ganhem rapidamente a preferência do público.
As abordagens promocionais são claras e celebram a fantasia de que, além do produto, sempre apresentado como investimento, o comprador está levando para casa um diferencial, uma vantagem, uma nova identidade capaz de lhe proporcionar uma visibilidade e importância singular em seu meio, acentuando seu status e força presencial.
No entanto, o maior trunfo da propaganda na arte de persuadir o indivíduo a comprar, não está apenas em fixar os novos hábitos antes inexistentes, mas em convencê-lo de que a partir do momento em que orgulhosamente ostenta publicamente sua aquisição, passará a fazer parte daquela seleta família corporativa. A ideia é fazê-lo crer que, doravante, seu status pessoal terá um valor comparável ao poder econômico e notoriedade que a própria corporação, ou mãe do produto, desfruta dentro da sociedade.
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Alberto J. Grimm -
É Antropólogo, Publicitário e Escritor especializado em educação Holística e Consciencial. É também autor dos Contos Reflexivos. Os contos são fábulas modernas, das quais sempre podemos extrair formidáveis lições de vida, que muito favorecem à reflexão.
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Alberto Silva Filho - É pesquisador das Ciências Cognitivas e orientador em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral. É também escritor de contos infantis e adultos e um dos colaboradores fixos do Site.
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