"Aprender a separar o conhecimento inútil do útil, esta deveria ser uma disciplina regular na pedagogia tradicional..."
De fato, posso acreditar em uma mentira e com isso imaginar que estou bem informado, quando a realidade seria exatamente o inverso. Uma crença não é capaz de tornar real aquilo que é uma ilusão. Por exemplo, os sábios da antiguidade acreditavam que a terra era plana e que o universo estava preso dentro de uma concha de estrelas, e isso, para eles, significava estar bem informado, quando de fato, estavam mais desinformados que uma criança dos nossos dias.
Do mesmo modo, um jovem acredita que está bem informado apenas porque, por hábito, todos os dias, troca mensagens com seus amigos nas redes sociais. E para ele, isso é o suficiente para que acredite estar bem informado sobre todas as coisas.
Mas, o problema maior é quando acreditamos que estamos bem informados sobre alguma coisa, uma vez que nossa fonte de referência possui o incontestável status da credibilidade, e, no entanto, estão a nos ludibriar, seja por omissão, desvio de foco, ou simplesmente por meio da técnica de desconstrução dos fatos. Isso pode ocorrer por dois motivos: Primeiro, a fonte divulgadora também é uma vítima, e sem saber, apenas repete uma mentira que recebeu como autêntica. No segundo caso, a informação errada é disponibilizada intencionalmente, e a fonte tem plena consciência disso.
Em um mundo onde o tempo se torna cada vez mais escasso, onde cada lacuna desse tempo é ocupada pelos tentáculos de uma engrenagem midiática que está sempre em busca de mais audiência ou visibilidade para seus produtos, cada indivíduo é assediado diariamente por uma quantidade de informações impossível de ser processada e digerida. Diante disso, a possibilidade de separarmos com lucidez o útil do inútil torna-se uma tarefa titânica, senão impossível.
Se o tempo é escasso, as informações precisam ser objetivas, breves, nunca completas. E o pior de tudo é que a própria mídia encarregada de divulgar um fato tende a apresentá-lo de uma maneira tão reduzida que o leitor – naturalmente já avesso aos textos longos – fica impossibilitado de formar um juízo crítico sobre qualquer assunto.
E com o advento de uma nova geração de jovens cuja disposição para questionar se tornou uma pauta proibida, fica mais fácil a proliferação das ideias e dos comportamentos patológicos que entram triunfalmente em seus lares com o status de símbolos, ideologias, doutrinas, estéticas corporais ou posturas de um novo tempo.
E existe até a propaganda disfarçada de informação ou notícia. Funciona do seguinte modo: Uma empresa encarregada de divulgar um produto, ideia ou qualquer outra coisa, contrata um competente redator, que por sua vez cria um artigo de impacto com a intenção de promover aquela mercadoria. O leitor, claro, raramente fica sabendo que se trata de uma propaganda. Assim surgem os novos e exóticos alimentos, ideologias, comportamento e conceitos que rapidamente, como pragas virais, se transformando em modismos, alienações, necessidades ou paranóias.
Por isso, todos os dias, ganham destacada visibilidade na mídia as notícias sobre as propriedades mágicas de alguns alimentos, tratamentos de saúde alternativos ou estilos de vida exóticos dos quais nunca antes se ouviu falar, e tudo isso convenientemente disfarçado de “Posturas de um Novo Tempo” para um “Novo Homem”. E para um espectador que se recusa a pensar de maneira lógica e por conta própria, logo se transformarão em sonhos de consumo, ilusões.
O artigo ainda poderá vir assinado e autenticado por um falso cientista, grupo de notórios pesquisadores, falsas biografias e bibliografias – lembrando-se do princípio em que o leitor com pressa nunca examina a veracidade das informações que lhe chegam às mãos. Os falsos laudos científicos, assim como as falsas referências de fontes abonadoras, além de um estilo requintado, vão dar um convincente toque final à farsa.
Por isso o culto exagerado às coisas inúteis, cuja visibilidade e popularização têm o patrocínio garantido da mídia e do próprio público, ganha a cada dia mais força. Aos meios de comunicação não interessa educar seu espectador, uma vez que é mais fácil puxar pelas rédeas fantoches sem consciência cujo objetivo de vida é a consolidação de um status comportamental inspirado e centrado apenas nas coisas sem utilidade.
Também não interessa à mídia o leitor crítico, aquele consciente do seu papel existencial, que rejeita as bobagens travestidas de necessidades. Por isso, ela investe pesado para certificar-se de que a desconstrução cognitiva comece cada vez mais cedo, fisgando o jovem ainda aos pés do berço, quando sua blindagem crítica não existe.
E eis o maior trunfo da mídia disseminadora das coisas inúteis, depois de patrocinar a remoção do senso crítico de cada indivíduo, ainda é capaz de convencer a todos de que, consciencialmente, estão progredindo de maneira inteligente e lúcida, empenhados na construção de um mundo mais justo e cada vez melhor, e o mais importante, impulsionados pela força do seu soberano e exclusivo Livre Arbítrio.
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Alberto J. Grimm -
É Antropólogo, Publicitário e Escritor especializado em educação Holística e Consciencial. É também autor dos Contos Reflexivos. Os contos são fábulas modernas, das quais sempre podemos extrair formidáveis lições de vida, que muito favorecem à reflexão.
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Alberto Silva Filho - É pesquisador das Ciências Cognitivas e orientador em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral. É também escritor de contos infantis e adultos e um dos colaboradores fixos do Site.
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