"Na pedagogia tradicional, duvidar de alguma coisa tem o mesmo impacto de um ato terrorista..."
Junto com sua experiência de vida, o agricultor aprendeu que perdendo mais tempo na seleção de suas sementes, lucraria mais na colheita dos seus frutos...
Por natureza, uma entidade humana, além das características comuns a outros animais irracionais, possui o dom da reflexão voluntária. Mas esse atributo existe apenas como potencial ou de modo latente. Por potencial, entenda-se a capacidade inata que tem uma semente de germinar em solo apropriado; e embora ela tenha esse potencial, só irá florescer se encontrar solo fértil.
O caminho existencial é uma trilha sem marcas ou delimitações que deverá ser percorrida por cada congênere humano. E existe o caminho principal, e esse se estende do nascimento ao fim da vida terrena. Nessa estrada virtual e sem uma forma pré-definida, as vias adjacentes ou secundárias existem aos milhares.
Estas poderiam representar as nossas escolhas; os efeitos de cada ato praticado; os efeitos dos atos praticados por terceiros e que nos afetam; enfim, todos os desdobramentos a partir das causas criadas dentro da trama social da qual somos protagonistas. E nesse caso, mesmo que indiferentes a tudo, não há como adotar uma postura passiva ou neutra. De fato, a neutralidade é uma ação voluntária, uma escolha consciente, um efeito criador de incontáveis causas.
Dentro da aparente realidade humana, podemos nos considerar como aprendizes de natureza principiante. E escolher um caminho não é tarefa simples para principiantes. Um principiante, por seu perfil imaturo, está mais sujeito a cometer equívocos em suas escolhas, uma vez que ainda lhe falta a competência própria da experiência de vida, uma condição que depende de tempo, frustrações e muitos tropeços.
Um caminho também sugere um destino ao final. Mas, como escolher um destino sendo incapaz de saber onde está situado o início? Sim, um calouro, até pela sua condição de principiante que dá os primeiros passos, ainda não tem como saber aonde quer chegar; qual seria o seu destino definitivo, especialmente quando sequer tem uma ideia clara do ponto onde atualmente se encontra.
Pode estar a apenas um passo do seu caminho; ou a milhares de distância. E há duas categorias de aprendizes, e um deles é aquele que já possui uma vasta ou longa experiência de vida, por isso, na maioria das vezes, tem mais idade. O outro é jovem, com pouca ou nenhuma experiência. Em comum, ambos estão em busca de uma mesma coisa, o seu verdadeiro destino ou motivo existencial.
E deixando de lado as diferenças etárias, estão em busca de orientações, informações, esclarecimentos ou aportes que faculte a ambos, pelo menos, descobrir se existe de fato um caminho pessoal a ser percorrido.
Mas caminho existencial não é a mesma coisa que realização material. Uma superior qualificação profissional ou larga experiência de vida, embora façam parte do caminho existencial de cada um, representa apenas uma fração dessa busca. Trata-se de um lance de tijolos na fase mais preliminar da obra final.
Sendo essa estrada uma trilha não delimitada que conduz ao desconhecido, tanto o caminho quanto destino, nenhum dos dois, admite uma mente que não seja flexível. Uma mente que já sabe antecipadamente o que vai procurar apenas será capaz de enxergar aquilo que já lhe é familiar. E paradoxalmente, uma mente que ainda não sabe o que procura, está mais apta a conhecer a verdade, caso exista uma.
Um guia só é capaz de conduzir de um ponto conhecido para outro igualmente conhecido. Parte de um ponto que já trilhou, para outro também já explorado. Trata-se então de uma mente que conhece o que procura. Sairá em busca de uma projeção de si mesmo; uma continuidade modificada daquilo que já experimentou. O tradicional caminho ideológico ou das doutrinas sectárias tem essa conformação.
Curiosidade sem inocência tem o mesmo valor que a cova de um cultivo sem sementes. A curiosidade que se presta tão somente a preencher a ociosidade mental, é como um quarto repleto de objetos sem utilidade. Ali se guarda de tudo, na esperança de que um dia alguma daquelas bugigangas venha a ter alguma serventia. Ocorre que, com o tempo, os objetos se desgastam, perdem sua funcionalidade, e o pior de tudo, o dono sequer é capaz de lembrar o que ali tem guardado.
O que ainda não somos, é isso que se busca. Mas, como encontrar aquilo que ainda não somos se sequer sabemos o que somos? Seria como construir uma casa, que além de não possuir alicerces ou paredes, começaria pelo teto.
A todos os Erros não intencionais podemos considerar como portas de entrada para os acertos. Um acerto é um caminho trilhado sobre um ou vários erros. A isso chamamos de lastro de experiência. Lastro não é um guia, mas, antes disso, uma resposta objetiva que pode ser comparada a uma porta que se abre. Ver o que por trás dela se esconde não faculta o observador a compreender seu conteúdo, mas tem a propriedade de aguçar seu olhar.
O lastro da experiência nos mostra o que há por trás da porta; compreender aquele conteúdo requer mais. Chegar até aquela porta já representa o ponto de chegada de um caminho, uma base que poderia dar motivação e consistência a nossa busca. No entanto, sendo esse um caminho trilhado por um principiante, qual a chance de que poderá conduzi-lo a um ponto definitivo, um lugar onde encontrará todas as suas respostas?
Quais são as Respostas que se busca, e o mais importante, qual a fonte de referência de onde foram extraídas? Não seria mais inteligente, ao invés de respostas, começar a aprender sobre a qualidade e a lógica daquilo que se pergunta? Ao aprender sobre o modo como elaboramos cada questão, por reflexo, também não estaremos de posse de uma possível solução?
Destino é quando se chega a lugar conhecido, jamais quando se faz uma referência à sua existência. Indício não é ciência, mas serve de caminho para a cientificação.
É como no processo da crença, onde um conceito se torna psicologicamente concreto pela repetição, tradição, identificação e até alienação, mas jamais por ser uma algo factual cientificado por meio da comprovação. Um alicerce virtual suporta sobre si apenas formas também virtuais, ilusórias, que sempre dependerão de uma crença para existir. Crenças virtuais são anseios pessoais, e sem as pessoas, não possuem existência independente. Diz um antigo adágio: A fé é necessária apenas enquanto se tem dúvidas ainda não comprovadas ou cientificadas a respeito de alguma coisa.
A ideia de uma boa colheita de nada serve sem o respectivo plantio. O plantio é a coisa factual, real, sólida, concreta, verdadeira. E assim, do mesmo modo que não é possível se conhecer o sabor de um fruto a partir de sua descrição, também não é possível construir uma obra concreta usando como alicerce estável apenas a imaginação, alegorias virtuais, mitos, ilusões ou fantasias.
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Alberto J. Grimm -
É Antropólogo, Publicitário e Escritor especializado em educação Holística e Consciencial. É também autor dos Contos Reflexivos. Os contos são fábulas modernas, das quais sempre podemos extrair formidáveis lições de vida, que muito favorecem à reflexão.
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Alberto Silva Filho - É pesquisador das Ciências Cognitivas e orientador em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral. É também escritor de contos infantis e adultos e um dos colaboradores fixos do Site.
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