Autor: Site de Dicas
Ilustrações e Texto: Alberto Filho[1]
Revisto e Atualizado: 11 de Maio de 2024
Era uma vez, dois compadres corcundas, um Rico outro Pobre. O povo do lugar vivia zombando da corcunda do Pobre, e não reparava no Rico. A situação do Pobre andava preta, e ele era caçador.
Certo dia, sem conseguir caçar nada, já à tardinha, sem querer voltar para casa, resolveu dormir ali mesmo no mato. Quando já ia pegando no sono, ouviu uma cantiga ao longe, como se muita gente cantasse ao mesmo tempo.
Saiu andando no rumo da cantiga que não parava. Depois de muito andar, chegou numa clareira iluminada pelo luar, e viu uma roda de gente esquisita, vestida de diamantes que brilhavam com a lua. Velhos, moças, rapazes, meninos, todos cantavam e dançavam de mãos dadas, o mesmo verso, sem mudar:
"Segunda, Terça-feira, Vai, vem!"
"Segunda, Terça-feira, Vai, vem!"
Tremendo de medo, escondeu-se numa moita, e ali ficou assistindo aquela cantoria que era sempre a mesma, durante horas.
Depois ficou mais calmo e foi se animando, e como era metido a improvisador, entrou no meio da cantoria, entoando:
"Segunda, Terça-feira, Vai, vem!"
"E quarta e quinta-feira, Meu bem..."
Calou-se tudo imediatamente, e aquele povo espalhou-se procurando quem havia falado. Pegaram o corcunda, e o levaram para o meio da roda.
Um velhão então, perguntou com voz delicada:
"Foi você quem cantou o verso novo da cantiga?"
Tremendo de medo, ele falou:
"Fui eu, sim Senhor..."
"Quer vender o verso?", de surpresa, perguntou então o Velhão, que parecia ser o chefe do grupo.
"Quero sim, senhor. Não, vendo não, mas dou de presente porque gostei demais deste baile animado..."
O Velho achou graça, e todo aquele povo esquisito riu também.
"Pois bem...", disse o Velhão, "uma mão lava a outra. Em troca do verso, eu te tiro essa corcunda, e esse povo te dá de presente, um Bisaco novo ..."
E ele passou a mão nas costas do caçador, e a corcunda sumiu. Lhe deram um Bisaco novo, e disseram que só o abrisse ao nascer do sol. O Caçador meteu-se na estrada, e foi embora. Assim que o sol nasceu, abriu o Bisaco, e o encontrou cheio de pedras preciosas e moedas de ouro.
No outro dia, comprou uma casa com todos os móveis, comprou uma roupa nova e foi à missa porque era domingo. Lá na igreja encontrou o compadre rico, também corcunda. Este quase caiu de costas, assombrado com a mudança. Mais espantado ainda ficou quando o compadre, antes pobre e agora rico, relatou ao compadre rico tudo que lhe acontecera.
Então, cheio de ganância, o rico resolveu arranjar ainda mais dinheiro, e livrar-se da corcunda nas costas.
Esperou uns dias, e depois largou-se no mato. Tanto fez que ouviu a cantoria e foi na direção da toada. Achou o povo esquisito dançando numa roda e cantando:
"Segunda, Terça-feira, Vai, vem!"
"Quarta e quinta-feira, Meu bem!"
O Rico não se conteve, abriu o bocão, e foi logo berrando:
"Sexta, Sábado e Domingo, Também!"
Calou-se tudo novamente. O povo esquisito voou para cima do atrevido, e o levaram para o meio da roda onde estava o velhão. Este gritou, furioso:
"Quem mandou se meter onde não é chamado seu corcunda besta? Você não sabe que gente encantada não quer saber de Sexta-feira, dia em que morreu o filho do alto; sábado, dia em que morreu o filho do pecado, e domingo, dia em que ressuscitou quem nunca morre? Não sabia? Pois fique sabendo! E para que não se esqueça da lição, leve a corcunda que deixaram aqui e suma-se da minha vista senão acabo com seu couro!
O Velhão passou a mão no peito do corcunda, e deixou ali a corcunda do compadre pobre. Depois deram uma carreira no homem, que ele não sabe como chegou em casa. E assim viveu o resto da sua vida, rico, mas agora com duas corcundas, uma na frente e outra atrás, para deixar de ser Ambicioso.
Conto tradicional de provável origem Européia.
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