Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
O estado brasileiro mais estudado e revisado é sem dúvida o Amazonas. Foi visitado por um sem número de naturalistas, artistas e viajantes, cada um destes, ao seu modo, contribuindo com o levantamento folclórico da região.
Na população branca e mestiça vivem os mitos europeus, com suas adaptações locais. Estórias da catequese misturam-se com tradições religiosas amerabas. O Mapinguari[2], invulnerável, morre com um tiro de cera de vela de altar onde se tenha rezado a Missa do Galo, a Missa do Natal. A cruz feita com palha benta do Domingo de Ramos afugenta das casas os duendes da mata. A grande população indígena, ouve, retém e transmite, já inconscientemente modificada, qualquer estória, multiplicando o mundo fantástico, criando novas versões de mitos já consagrados, dando novas tonalidades de acordo com sua imaginação criadora.
Barbosa Rodrigues,[2] possuía uma pedra-de-chefe, a nefrita verde, Muiraquitã[3] rara e disputadíssima, b>"tuixáua-itá" dos Tupis, a "nanaci" dos Tucanos, que foi largamente falsificada pela indústria na Inglaterra, e vendida através das Guianas. Tratava-se de um pequeno cilindro de louça, imitando com perfeição o ornato usado pelas maiores autoridades indígenas. Esta pedra de "poder", de origem misteriosa, mais valia que ouro ou qualquer outra pedra preciosa. Este precioso amuleto viera aos índios Chirianás por troca com os Macuxis de Rio Branco[4].
Os mitos levados pelos portugueses povoadores se misturaram aos já existentes, aumentando assim a grande cena mítica do Amazonas.
Nenhum mito, no entanto, escapou à influência do elemento nordestino, o grande desbravador das matas e rios, vencedor das assombrações. Com as histórias de fantasmas já fazendo parte da sua tradição, modifica tudo que foge à sua compreensão, refazendo ao seu modo, os mitos já existentes. Assim, o Caapora como foi visto, gigantesco, guiando a caça, orgulhoso de poder, insensível ao pedido humano, protegendo os bandos de porcos, os veados, cotias e antas, castigando o matador, este Caapora que briga com o jabuti, protetor dos animais da mata virgem, ninguém conhece em toda a Amazônia.
Aquele que manda, conversa, pune e castiga é a Caipora, caboclinha ameninada, com os cabelos duros e negros até os joelhos, que gosta de fumo, e adora o caçador que para lhe demonstrar respeito entrega-lhe a caça, assim como a CaaManha do Paraguai e Uruguai faz com os colhedores de mate. Essa Caipora feminina, poderosa, é um trabalho nordestino, de deturpação e de popularidade.
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, que exportaram milhares de homens, sacrificando mesmo o equilíbrio social de suas terras de origens, também acabaram por exportar para aquelas terras distantes, juntamente com seus filhos, seus mitos. Chegando nas terras amazônicas os mitos se disseminaram quase sem modificações, ganhando aqui e ali pequenos retoques locais, mas sem o comprometimento do seu formato original.
Assim, as influências étnicas da região amazônica, estão assim distribuídas: Os brancos com o contingente nordestino fazem o primeiro núcleo. Os indígenas pelo volume, impõem o segundo, com intensa interdependência com o primeiro. Os negros contribuem apenas com leves traços de sua presença, mais voltados aos aspectos das tradições religiosas, mas, ainda assim permanecendo dentro dos dois grupos anteriores.
A Editoria de Pesquisas Folclóricas, é composta por dois antropológos, sendo um deles também folclorista, historiador e publicitário. Contamos ainda com a colaboração de uma pedagoga e antropóloga especializada em Tradições Populares e Costumes Antigos, e também com as valorosas contribuições dos nossos leitores.
>>> Bibliografia consultada.
[2] Engenheiro, naturalista e botânico brasileiro. Esteve na Amazônia em uma missão científica do governo imperial (1872-1875). Anos mais tarde organizou e dirigiu, em Manaus, o Jardim Botânico, inaugurado em 1883 sob o patrocínio da Princesa Isabel, e extinto após a Proclamação da República.
[3] Espécie de amuleto usado por alguns indígenas, que diziam possuir poderes mágicos, capaz de proteger o seu possuidor contra moléstias físicas e forças do mal.
[4] Vellosia, 2º. Volume, página 97, segunda edição, Editora Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1892.
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