Autor: Alberto Filho[1]
Revisto e Atualizado: 17 de maio de 2024
Como uma esponja que absorve tudo que está à sua volta, assim é a inquieta, viçosa e curiosa mente infantil, uma espécie de livro em branco, onde se pode escrever qualquer coisa, inclusive aquilo que não presta. Trata-se de uma vasta área vazia, inicialmente sem dono, onde os posseiros invasores, mal ou bem intencionados, poderão fundar suas colônias, e na maioria das vezes, com pouca ou nenhuma resistência do inocente latifundiário, neste caso, a criança ou jovem.
Imitar é o jogo predileto da mente infantil, e é a única coisa que importa. E como ainda é ingênua e mal informada sobre todas as coisas, o conceito de errado ou certo é algo que desconhece. Logo, pensar em discernimento nessa hora é como exigir que um cão amestrado seja capaz de dissertar em latim uma longa conferência para sábios.
Agora observe as festinhas infantis, aniversários, reuniões sociais, onde os pais e familiares recebem os amigos; onde comida e bebida são ingredientes indispensáveis. Difícil mesmo é imaginar festas e encontros sociais não regados e patrocinados pelos sedutores compostos etílicos. Sem eles não existiriam as festas; sem eles não haveria combustível para motivar e engrenar o alegre processo de “socialização” entre anfitriões e convidados.
São os bebedores moderados ou sociais, como enfatizam, com eufemismo jocoso, as campanhas publicitárias encarregadas de criar novos dependentes e fidelizar os antigos. E embora finjam mascarar sua intenção por trás de frases de alertas deploráveis tais como: “Beba com moderação...”, claro que esta nunca poderia ser sua intenção, uma vez que se todos bebessem com moderação, os conglomerados e grandes corporações fabricantes de tais drogas etílicas deixariam de prosperar.
E ali onde reina a alegria chancelada pelo inebriante efeito dos compostos alcoólicos, os adultos se deliciam, e sob os efeitos acalentadores das misturas etílicas, demonstram publicamente a imensa satisfação que lhes proporciona aquele divinizado néctar alucinógeno ou elixir dos deuses; um tradicional motor formal e obrigatório de socialização, e segundo eles mesmos, o caminho mais curto para a felicidade.
É impossível que um adulto, completamente desfigurado e arrebatado pelo efeito hipnótico e alienante da ingestão destas drogas, não se destaque diante dos demais, especialmente quando exibem comportamentos bizarros, que muitos consideram como demonstração de satisfação, felicidade sem limites, plenitude existencial ou contentamento ímpar; exemplos de boa conduta, estado de espírito elevado, assim como um símbolo social de estilo de vida superior.
E embora tudo aquilo seja antinatural, naquele meio patológico, é um comportamento visto com distinção e louvor. Trata-se de um estado de “ser” cultuado, que se opõe à apatia tradicional que demonstram todos os outros não praticantes do etilismo; aqueles dotados de sobriedade, que ainda se atrevem a adotar o antipático papel de pessoas “normais”.
Para os mais jovens, especialmente as crianças, aquilo servirá como um gabarito, um exemplo viável, que objetivamente poderá, ou deverá, ser imitado. No entanto, como se a lição de casa não bastasse, alguns adultos vão além, e para satisfazer a curiosidade dos seus filhos pequenos, ou como uma expressa representação formal de machismo e poder de dominação, lhes oferecem pequenas doses dos preparados alcoólicos.
Na cabeça de tais adultos, já deformadas pelos efeitos degeneradores de tais drogas, tudo aquilo representa um raro ritual de iniciação, um mérito capaz de tornar aquele jovem mais destacado, superior, uma espécie de afilhado das divindades etílicas tão cultuadas naqueles festins macabros.
Está feito. Depois disso, basta aguardar que a esmagadora força midiática e influência social cumpram seus papéis. E logo, as campanhas publicitárias que doutrinam, incitam, apóiam e autenticam esse costume espúrio, cuidarão de dar as formas definitivas ao ritual iniciático patrocinado pelos pais, consolidando aquilo como uma necessidade; como um traço marcante de suas personalidades, um desejável e exclusivo fator de inclusão social e status diferenciado para todos os jovens.
Um comentário final: Se você já é capaz de perceber tudo isso, este texto terá sido útil para você, mas caso não seja, esqueça tudo que acabou de ler.
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Alberto Filho, É orientador e Consultor em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral e Holística. É também Tradutor, Escritor de Contos Infantis e Adultos.
Email: albfilho@gmail.com
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