Curso Criação de Atividades Recreativas
Aula 2 - Como Trabalhar a Criatividade na Concepção de Modelos Didáticos
Página: 3/3

"Se o Princípio da Dúvida não se torna um preceito educacional dos mais relevantes, então, todo processo cognitivo declinará em direção à estupidez..."

Como adaptar uma Atividade já existente para novas Aplicações:

Muitas vezes uma atividade tradicional, como, por exemplo, um jogo consagrado, pode ganhar novas funções, às vezes até diferentes do seu propósito original.

O tradicional Jogo-da-Velha, por exemplo, pode inicialmente ser aplicado para desenvolver a Atenção e o Raciocínio Lógico, mas se refletirmos um pouco mais é possível dar-lhe novas funções de grande valor didático, sem descaracterizar, no entanto, sua proposta inicial.

Por exemplo, vamos usar o tabuleiro do jogo, conforme a Figura 1 abaixo, onde serão distribuídos nove círculos coloridos. A tarefa do aluno seria então embaralhar os círculos, de modo que na mesma linha, não se repetissem cores iguais.

Uma das possíveis soluções é mostrada na Figura 2. Podemos criar outras situações, com outros objetos ao invés dos círculos. Poderão ser formas geométricas, objetos, números, ilustrações com animais, frutas, e desse modo se tornaria possível trabalhar também o conhecimento de outras formas, a diversidade, etc.

Figura 2

Existem inúmeras formas de adaptações que podemos fazer com todas as demais Atividades tradicionais. Desse modo, é possível reciclar praticamente todas as atividades já consagradas, deixando-as sempre novas, atualizadas, adaptadas aos novos tempos, realidades e necessidades; direcionando-as para projetos específicos. Nesse caso, a imaginação do educador será o limite.

Uma Introdução às Experiências Chave:

São representações, concepções, que descrevem o desenvolvimento social, cognitivo e físico das crianças na sua primeira fase de formação que ocorre entre dois e meio até os cinco anos de idade. Mas, estas concepções podem ser livremente adaptadas para todas as faixas etárias, e até mesmo servir como modelo para avaliação de profissionais adultos já qualificados.

Cada item – eles são em número de quatro – focaliza uma experiência que é essencial para o Desenvolvimento das Capacidades que surgem nesta idade. No seu conjunto, as Experiências-Chave proporcionam um quadro detalhado das atividades típicas das crianças desta faixa etária, assim como dos tipos de conhecimentos dos quais necessitam. São utilizadas como guias pelos educadores para observar, compreender e apoiar os interesses e capacidades das crianças neste período crítico de sua formação.

Vamos aqui descrever o significado de cada um destes tópicos, no entanto, apenas alguns aspectos do item Socialização serão comentados.

Características de cada item dos Quatro Grupos:

Socialização: Aqui a criança desenvolve o sentido da iniciativa e confiança em si mesma e nos outros. As crianças gostam de se relacionarem e de compartilhar suas experiências com as demais. Por isso é comum frases do tipo: “Eu sei como é que se faz isso”, “Eu te mostro como fazer isso”, “Aquele menino ou menina está triste, acho que está doente...” O desejo de compartilhar seu mundo com os outros, sem competição, é o primeiro Despertar de Inteligência que ocorre numa criança. Este tipo de inteligência, que não é aquisição de conhecimentos teóricos, é algo intuitivo; uma condição que com o tempo será substituído pelo desejo de poder e disputa; uma forma já corrompida de pensamento que o meio social institui e incentiva.

Linguagem e Representação: A criança é encorajada a falar sobre suas atividades e realizações; sobre o que sente e o que deseja com o uso das próprias palavras. Ao expressar com palavras suas experiências e sentimentos ela se torna mais consciente das descobertas feitas e mais capacitada a fazer uso deste conhecimento no futuro. As experiências-chave de Representação, como as de Linguagem, ajudam a criança a lembrar, reviver e aplicar aquilo que já sabe. Assim, poderá Recordar e Interpretar suas Experiências através de jogos dramáticos, desenhos, pinturas, construindo coisas que conhece com blocos de madeira, barro e outros materiais.

Classificação e Noções de Sequência, Números, Espaço e Tempo: As crianças têm a oportunidade de utilizar e compreender as relações entre as coisas do seu mundo; quais as Semelhanças e as Diferenças entre Objetos; onde se localizam as coisas no espaço e no tempo; como poderão a partir de uma coisa dar origem à outra, e assim por diante. Desse modo, descobrindo e compreendendo os objetos que ilustram seu mundo, elas adquirem a sensação de controle sobre si, autossuficiência ou independência.

Desenvolvimento Físico: O desenvolvimento da capacidade de coordenação, consciência do corpo e o sentido de prazer corporal, são condições que apóiam a socialização e o processo de aprendizagem das outras coisas. Assim, em vez de objetivos impostos pelos adultos à criança, pelo uso das Experiências-Chave, poder-se-á identificar com as atividades de sua preferência. Isso torna mais fácil para o adulto dar apoio aos interesses dela e ajudar no processo de autoconsciência do que está fazendo. Mais consciente dos seus interesses, pontos fortes, qualidades e virtudes, a criança se torna mais lúcida ao aplicar seus conhecimentos às novas descobertas; isso acaba por ajudar de maneira decisiva no seu desenvolvimento Cognitivo e na formação da Inteligência.

Examinando a Questão das Caixas:

Suponha agora a seguinte condição inicial: É preciso carregar de uma só vez as três caixas, e o mais importante, pulando numa só perna, sem deixar cair nenhuma delas. Sabendo-se que para carregar qualquer uma das caixas você precisará usar simultaneamente as duas mãos. Por outro lado, o fato de ser obrigado a carregá-las pulando numa só perna, praticamente elimina a possibilidade de empilhá-las umas sobre as outras. Assim, como fazer para carregar as três ao mesmo tempo, sem que nenhuma delas caia no chão?

Claro que alguns conseguirão resolver o problema, outros não. Para aqueles que não conseguirem, dê a seguinte informação adicional: “As caixas menores cabem dentro das maiores.” Esta informação sugere que pensem antes de qualquer tomada de decisão, criando assim o primeiro sentimento de que, diante de um problema de qualquer natureza, independente de opiniões, uma análise em torno do mesmo é um quesito necessário.