Autor: Jon Talber[1]
Atualizado: 14 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
São problemas que não criamos, apenas herdamos dos nossos ancestrais, e que de maneira passiva repaginamos com uma nova maquiagem para adaptá-los aos novos tempos. Como resultado, assim como já fizeram nossos pais e avós, como espectadores indiferentes, mecanicamente, simplesmente repetimos todo processo, enquanto diligentemente instruímos nossos filhos para que façam o mesmo.
É imaturo de nossa parte imaginar que o tempo se encarregará de resolver nossos problemas existenciais. Como referência, basta consultar nosso passado. Lá encontraremos um homem problemático que ciclicamente se repete, conservando todos seus conflitos e preocupações com a morte e a vida, sem conseguir superar suas aflições mais primitivas, como o medo da solidão e de perder tudo que construiu.
“Então, estamos diante de um quadro que se repete. Muda-se o cenário e os personagens, mas não a mentalidade; não a base psicológica criadora de todo este drama...”
Quando se observa o mundo atual, inevitável é ignorar a existência dos conflitos, sejam aqueles de natureza íntima e pessoais, ou os coletivos. Parece não haver uma intenção deliberada e um empenho voluntário para mudar o Status de todas estas deformidades sociais.
Aparentemente não temos escolha, assim como também não tiverem nossos pais e avós. Uma criança de berço não é capaz de escolher. Escolhe quem já pensa de modo lógico, o que não é o caso de uma criança pequena. Além disso, a criança possui uma mente pré-concebida para imitar tudo que acontece dentro do campo de ação dos seus sentidos. Trata-se de uma condição involuntária, e disso só podemos nos dar conta depois que já se passaram muitos anos, quando nosso condicionamento já se consolidou moldado segundo a força das tradições de cada mesologia.
Psicologicamente fomos inteiramente construídos pelos conceitos existentes neste mundo, e mesmo nossas idiossincrasias acabam por se ajustar de conformidade com os estímulos vindos de fora. Somos, enfim, uma réplica viva de ideias e ideais, crenças e desejos que dão forma ao consciente e inconsciente coletivo da humanidade.
Confunde-se a natural capacidade do nosso cérebro de adaptar-se instintivamente ao meio onde vivemos e suas condições sem direito a escolha, com o ato Inteligente, onde a lucidez, sensatez, senso crítico e capacidade consciente e voluntária de escolha, se encarregam de guiar nossos passos. Viver de conformidade com os protocolos já definidos requer apenas a habilidade de saber imitar, e isso nosso cérebro sabe fazer como ninguém. A Imitação é um processo involuntário, não requer senso crítico ou capacidade de escolha; imitar de maneira cega, esta é sua função primária. É uma extraordinária máquina de imitar; a mais perfeita jamais existente.
Não apenas imita como também memoriza tudo que se presta a imitar. Na verdade, o processo seletivo, a ilusão de que podemos escolher de acordo com nossas preferências, ocorre muito tempo depois da memorização involuntária, quando já estamos repletos de todas as tradições, hábitos e costumes disseminados em nosso meio.
É Involuntária porque nosso aprendizado primário e assimilação das coisas deste mundo não dependem de nossa vontade, e até mesmo nosso temperamento é sufocado por tudo isso. A aparente vontade, ou capacidade da escolha voluntária, surge depois que já estamos condicionados. E neste pacote estão incluídas nossas preferências, gostos pessoais e aspirações. Não há nada novo; tudo que somos pegamos emprestado de outros. E a isso acrescentamos nosso modo de interagir e idiossincrasias. O resultado são experiências, que embora comuns a todos, estão adaptadas à nossa individualidade, e por isso nos parecem vivências únicas, exclusivas.
Mas, não há nada que verdadeiramente seja só nosso, de nossa autoria. É tudo imitação, coisa de segunda mão, adequação, adaptação parcial ou total. O mundo com todo seu extenso e complexo ideário nos construiu à sua imagem. E todo o nosso trabalho é apenas de levá-lo adiante, como ele é, com suas distorções. E em meio a tudo isso, ainda relutamos em abrir mão do nosso lado animal, dos traços irracionais, para de maneira lúcida aceitar e usar nossa racionalidade.
Todas as reformas possíveis, sociais, políticas e religiosas, já foram tentadas, e no máximo, isso apenas muda os limites geográficos das nações. Enquanto isso, o homem psicológico permanece o mesmo. Medroso, angustiado, violento, à espera de um milagre capaz de resolver seus problemas e reparar seus defeitos.
Nem a criatividade, nem o conhecimento, nem a melhor imaginação humana foi capaz de erradicar seu sofrimento e angústias mais simples, a exemplo do medo. E toda nossa criatividade se resume a maquiar a estética externa de uma ou outra coisa existente: Algo como mudar a embalagem de uma caixa e manter seu conteúdo.
E mais importante do que saber o que somos, é tentar criar uma nova postura existencial para nós mesmos, diferente de tudo que conhecemos. Diferente do que acumulamos desde o dia em que deixamos de morar em cavernas. Deixamos as grutas de pedra para trás e construímos sofisticadas grutas de cimento e aço. Mudou-se a forma do abrigo, mas não a natureza do inquilino.
Talvez o problema esteja nesse modelo pedagógico onde delegamos, de maneira deliberada, a condução de nossas vidas a homens sábios travestidos de guias. A partir do momento que ignoramos quem somos, como será possível descobrir aquilo que deve ser corrigido? Imagine aceitar que outros sejam capazes de fazer isso por nós. Agindo desse modo, não diferimos de animais amestrados presos em um cativeiro, cujas grades, para eles, representam apenas molduras de janelas.