Sem antes conhecer a si mesmo, suas falhas pessoais, defeitos, manias e dependências, torna-se o educador um mero replicador das psicopatologias sociais com as quais convive diariamente...
Examinando a raíz primária da Questão...
E eis a questão: Se estamos insatisfeitos, em conflito conosco e com o resto do mundo, tomados por mágoas e preconceitos, como podemos estar qualificados para estruturar de maneira equilibrada a mente de uma criança ou jovem, um território ainda não povoado por todo esse caos que já é parte integrante de nossa personalidade?
A lógica é bastante simples: A humanidade criou as sociedades distorcidas onde vivemos, com seus problemas e conflitos, e está qualificada apenas para repetir aquilo que já sabe fazer bem, ou seja, criar mais confusão. Pense bem: Poderia uma distorção ser capaz de criar uma nota harmônica?
O problema então não é educar a criança, mas, em primeiro lugar educar o docente. Essa regra se aplica tanto aos pais quanto a qualquer outro que se proponha a ensinar ou constituir família. E nesse processo o educador deve se tornar um eterno educando, partindo do princípio de que ainda não sabe, mas agora tem consciência disso. Ciente do fato, só assim estará pronto para exercitar sua inteligência, algo que talvez nunca tenha feito antes.
Veja quantos anos e rigor se exige para que um advogado, médico ou outro profissional especializado seja autorizado a exercer sua função. E ainda há um conselho de classe para avaliar e certificar essa qualificação, e só então aquele indivíduo terá permissão oficial para o exercício regular de sua profissão ou papel social. No entanto, para se exercer a função de pai, que deveria ser o mais importante papel dentro de uma sociedade criativa e organizada, paradoxalmente, nenhum pré-requisito ou treinamento prévio é exigido.
Sem essa conscientização, qual será a qualidade psicológica dos nossos filhos? No papel de leigos, o que podemos repassar senão nossa absoluta ignorância? E se como indivíduos ainda não somos detentores de uma estrutura emocional e psicológica equilibrada, pela lógica, isso também não tende a refletir na qualidade psicológica dos nossos tutelados?
Promessa de dias melhores, na prática, não significa coisa alguma. O problema existe nesse momento, e sonhar com melhorias que virão num tempo incerto patrocinadas por atos generosos de divindades mágicas, tudo isso reflete apenas nosso mais elevado sentimento de imaturidade, acomodação crônica, preguiça, e especialmente falta de interesse em tentar corrigir o que não funciona.
Se para o pai ou educador ensinar significa replicar as deformações já existentes, isso não serve. Outros já fizeram a mesma coisa. Somos o resultado de tudo isso, e convenhamos, o resultado é lastimável. A questão é: de onde virá a solução?
Aprendendo a enxergar a questão com olhar imparcial...
De fato, a verdadeira educação começa e termina dentro de casa, e na escola apenas deveria ganhar nuances reforçando esse processo. O papel do docente atualmente se resume em informar aos alunos sobre suas obrigações curriculares e orientar a respeito dos prazos, assim como aplicar testes para avaliação. Ou seja, não difere em nada de uma máquina. Por isso em pouco tempo se tornarão descartáveis e perderão seu espaço para acessórios cibernéticos.
O que podemos fazer para que nossos discentes e filhos compreendam seus conflitos, as influências que criaram as distorções psicológicas das sociedades, se também não compreendemos nada disso; se ainda não experimentamos em nós mesmos essa transformação?
Se estamos limitados pelos nossos próprios problemas e medos, torna-se impossível capacitar as crianças para a resolução de questões semelhantes. Sem aprender, vivenciar, sentir por meio da autoexperimentação a mudança que pretendemos discutir, todo esforço terá sido em vão.
O papel do educador tradicional é apenas mostrar aos jovens como resolver as questões dos exames de avaliação escolar, e para isso basta seguir o roteiro. Nesse caso, nem educador nem educando precisarão aprender a pensar. Ser capaz de memorizar fórmulas ou textos é o único pré-requisito, e nesse caso, o educador torna-se dispensável.
Para aconselhar sobre o medo, suas nuances e malefícios, primeiro deveria o educador compreender como ele próprio se comporta diante da questão. Não sendo capaz de resolver seus próprios medos, não terá gabarito para aconselhar seus educandos a respeito do problema.
Mas poderá ser sincero com eles, se colocando no papel de cobaia, e assim falar da sua própria fraqueza em relação ao medo. Esse posicionamento, que é o seu próprio exemplo, reflete humildade, e poderá servir como fonte de motivação e inspiração para que seus alunos façam a mesma coisa. Isso criará entre ele e os alunos uma forte empatia, e uma vez que compartilha de seus temores pessoais e fraquezas publicamente, há uma possibilidade concreta de que os alunos também se sintam à vontade para partilhar, expor seus problemas e dúvidas pessoais.
Um verdadeiro educador, diante de seus alunos, jamais se colocará num pedestal daquela autoridade que sabe mais, nem irá competir com eles. Afinal de contas, de maneira justa e honesta, quem irá aprender a lidar com os alunos, estudando seus comportamentos para compreender suas disposições e preferências, senão o educador? E o que ele fará com isso?
Se for educador por vocação, ficará grato por lhe ser permitido aprender com seus educandos. Um educador primeiro aprende, depois ajuda seus discentes a encontrar a melhor solução, sempre respeitando os limites individuais de cada um deles. Um mestre de verdade deverá, em primeiro lugar, se colocar na posição de educando. Ele sabe que a autoqualificação é um caminho sem fim.
Falar dos próprios limites aos alunos constitui um dos mais elevados níveis de autoaprendizado. Os benefícios são inúmeros para os dois lados. Os alunos incutirão forte empatia e respeito pelo preceptor, que como eles, também é imperfeito, e não nega isso. Nesse caso, os alunos se sentirão à vontade para expressar suas fraquezas e limitações; talvez até suas mais profundas dúvidas existenciais.
Deverá o mestre, no entanto, se resguardar de comentários inadequados, situações possíveis de criar embaraços, ou perderá o respeito da turma. Falar demais nunca é bom; falar o necessário é a melhor política. Nesse ponto, é bom ter cuidado com os vislumbres de vaidades pessoais. Por isso, ficar de olho na autoglorificação do Ego não permitindo que se exceda, é a postura mais inteligente. O educador de verdade ouve mais e fala só o que é necessário.
Desejando criar em sala de aula um clima de respeito e austeridade, deverá o educador levar a sério suas promessas, que deverão ser cumpridas na íntegra. Agindo assim poderá cobrar dos seus alunos. Não se deve prometer aquilo que é impossível de se cumprir, por mais nobres que sejam os hipotéticos motivos ou intenções. Promessa, além de dívida, é uma implacável avaliadora de caráter.
Se você não for capaz de cumprir, informe com antecedência, enumerando os motivos. Esse gesto abre um canal de confiança entre educador e educando. Assim, os alunos poderão criar a coragem necessária para também compartilhar dos seus próprios dilemas individuais e angústias. Justificar com honestidade é mais inteligente e proveitoso do que se ausentar por covardia.
Por fim...
Conselho em demasia, como tudo em excesso, tem pouco valor. Diante de uma situação importante, as críticas e ressalvas mais prejudicam que ajudam. Alguém que está se afogando precisa de aporte imediato e não de sermões doutrinários ou dissertações filosóficas.
Passada a crise, uma conversa franca, com disposição para examinar criteriosamente as causas e efeitos de tudo que está relacionado ao problema, de maneira discreta e ordenada, será coisa bem vinda e altamente recomendada.
Sendo o aluno ou filho aquele sujeito arredio, encontrar um momento adequado, cuidando de não deixar a ocasião se distanciar muito da ocorrência, é essencial. Ao deixar passar o momento, perde-se também uma excelente oportunidade de fixação do aprendizado para as duas partes. Sempre lembrando que uma crítica ou ressalva é algo pessoal, nunca um assunto de domínio público.
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Jon Talber - jontalber@gmail.com
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