Autor: Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado:14 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Quando os pais não estão presentes na educação dos filhos, não tardará a penitente jornada de cada um deles em busca de algum culpado para justificar as posturas patológicas de crianças e jovens, a exemplo dos comportamentos deliquentes. Mas, infelizmente para os pais, neste caso, não há argumentos válidos capazes de sentenciar que o resto do mundo seja culpado de alguma coisa. Entretanto, não faltarão as desculpas extravagantes, explicações capciosas, tais como a já tão surrada falta de tempo, já que, como provedores do lar, precisam trabalhar fora para manter a família.
No entanto, não há como fugir da realidade, e esta é bastante simples: os pais, ou tutores, são os verdadeiros responsáveis pela educação e conduta das crianças que ainda estão sob seus cuidados, afinal de contas, nenhuma delas veio ao mundo como cães sem dono.
Se não conseguem ter tempo suficiente para cuidar delas, isso faz parte do problema criado por eles mesmos. A questão então é, como podemos exigir do mundo coerência para o modo de pensar e agir dos nossos filhos, se nós mesmos nunca lhes mostramos como se faz isso? Uma criança criada dentro de um lar atencioso, com pais ou cuidadores presentes, carinhosos, pacientes, respeitadores e amigos, só por obra de um improvável, trágico e caprichoso destino poderá ter uma Mente Delinquente depois de crescida.
As tentações do mundo lá fora, seus vícios e manias, existem primeiro dentro de nossas casas, e se manifestam para as crianças, de maneira direta ou indireta, por meio de nossas posturas. É a maneira, muitas vezes inconsciente, como nos expressamos dentro de casa, no trato diário com todos, diante dos nossos filhos, eis o fator postural que fará toda diferença na construção de sua futura personalidade.
Esta pedagogia involuntária – supondo que os pais não tenham consciência de nada disso – é a cláusula que irá determinar as futuras aspirações de crianças e jovens. E a influência lá de fora servirá apenas de complemento, referência negativa ou positiva, um consistente reforço para consolidar os traços já adquiridos dentro de casa.
Sendo as crianças e os jovens criados em um ambiente de atenção, cuidados, compreensão e muito diálogo, nada do mundo lá fora tenderá a influenciá-los de maneira negativa. Se ainda assim caírem em tentação, mais uma vez, será porque uma correta, exemplar, sólida e qualificada educação preliminar, ou básica, não tiveram dentro de sua própria casa.
Não se trata apenas de suprir conforto e lastro material, mas antes disso, de prover de atenção e respeito, afinal de contas, são eles nossos filhos, uma herança que deixaremos para o mundo na forma de uma contribuição negativa ou positiva.
Muitas vezes, avalia-se o comportamento patológico de jovens que tiveram uma boa vida, família estruturada e estável, boa escolaridade, pais aparentemente justos que lhes supriram com todas as demandas materiais, e ainda assim, se desgarraram para o mundo dos excessos e delitos, drogas ou criminalidade.
A questão é: Como afinal de contas é criado o repertório cognitivo de um jovem? Não nos referimos à estrutura do cérebro orgânico, a parte biológica, e sim o conteúdo que está lá dentro, gravado no interior do seu intelecto em forma de memórias, tudo aquilo que deu forma e volume a sua personalidade?
De onde virão as influências e estímulos patrocinadores do seu comportamento, um acervo que em comunhão com suas idiossincrasias darão as nuances definitivas à sua individualidade? Terá sido do mundo lá fora, a influência dos amigos, as sugestões da sociedade e dos costumes? O que afinal de contas influencia este jovem a ponto de determinar o quê, e como, deverá ou não agir, ou se comportar, pelo resto de sua vida?
Sabemos que uma criança não nasce com uma personalidade pronta, mas apenas com predisposições inatas que chamamos de embriões temperamentais. Este atributo pode interferir no seu processo cognitivo, mas não determinar todas as suas posturas futuras. Então, pela lógica mais elementar, só podemos deduzir que tudo isso ocorre no intervalo entre o período que a criança desce do berço e aquele que vai às ruas.
Mas, como essa criança recém chegada ao mundo apreende e assimila os caracteres que irão constituir sua personalidade, onde estão incluídos seus gostos, desejos, amarguras, paranóias, enfim, todo repertório cognitivo que irá moldar e dar consistência ao seu caráter?
Embora a predisposição inata de cada um favoreça o afloramento de um ou outro comportamento ou até mesmo habilidades naturais, o que fará a diferença na construção definitiva do caráter ou personalidade de cada um, ou seja, aquilo que vai consolidar a qualidade da mentalidade de cada indivíduo, ainda é a influência do ambiente onde ele nasceu ou foi criado.
Se uma criança aprende por meio da imitação, e na verdade todas as crianças aprendem por meio da imitação, logo ela precisa de um exemplo prático capaz de lhe servir de gabarito. Isto é, um ou vários espelhos para se guiar, e destes, finalmente, tirar aquilo que de acordo com suas tendências e inclinações melhor se adequa à construção do seu Perfil Comportamental Básico. Não há outra maneira, mas existem inúmeras formas de como estas forças indutoras irão, de modo dramático, entrar e interferir em sua vida.
E como já dito antes, apesar do importante apelo do seu temperamento natural que a predispõe a identificar-se com alguns interesses e preferências, é o exemplo de pais, cuidadores ou da mesologia, o fator definitivo para a construção e consolidação de sua personalidade ou perfil comportamental, dentro e fora de casa; não há outra forma.
A questão que devemos considerar então é essa: Como surgem as preferências infantis? Não nos referimos aos traços das tendências inatas e inconscientes já citadas, mas os conscientes, tais como os desejos lúcidos, antipatias ou empatias, medos, enfim, todo alicerce psicológico que vai dar forma à personalidade dos nossos filhos? Afinal de contas, eles não nascem com nada disso. Logo, sabendo que nada disso faz parte do seu instinto primário, só resta concluir que tudo foi absorvido e incorporado a partir do meio onde vive, por meio dos exemplos práticos, de outras pessoas.
Para diferenciar uma predisposição natural de um traço comportamental adquirido por meio do hábito, é simples, basta separar tudo aquilo que é movido pelo desejo ou vontade consciente, daquilo que não é. Por exemplo, sentir fome, dor, chorar no berço ao sentir desconforto, e assim por diante, nada disso depende de nossa vontade; ocorre à revelia do nosso querer, logo aí não há a interferência do pensamento ou força do condicionamento adquirido. Tudo isso é instinto, coisa irracional e involuntária, dotes ingênitos a cada primata racional.
No entanto, se somos capazes de escolher ou comparar, preferir ou rejeitar, então é coisa do pensamento, faz parte das memórias adquiridas, acumuladas a partir de nossa experiência de vida ou condicionamento social. Trata-se de uma experiência onde estão incluídas as influências que assimilamos e copiamos do nosso meio para usar como modelo de conduta.
Perceber que, a cada nova geração, os vícios e anomalias sociais do mundo são repassados na íntegra aos seus inquilinos, nesse caso nossos filhos, esta deveria ser a primeira tarefa dos pais realmente interessados no futuro dos seus herdeiros. Aceitar que este é o modo usado como gabarito para condicionar as futuras gerações, é compreender o Modus Operandi e Faciendi deste mecanismo social encarregado de construir personalidades.
Cientes deste fato, como pais ou educadores, assim como o agricultor que pretende separar os grãos sadios daqueles incapazes de germinar, deveríamos refletir e avaliar tudo aquilo que não mais nos serve. Aliás, até que serve, mas apenas como referências ou exemplos didáticos para ilustrar tudo aquilo que sabidamente não presta. Se não presta, não mais deveria ser replicado, prescrito ou presenteado como espólio para nossos jovens, como até hoje, indiferentes a tudo, o temos feito.
E embora não possamos mudar o mundo, podemos transformar o indivíduo que está sob nossos cuidados. Ele é uma entidade que irá viver neste mundo, com todas suas distorções e dramas, e poderá ser um multiplicador, ou não, de toda esta confusão. Trata-se de um processo individual, lento, paciente, mas necessário, se quisermos acrescentar ou assegurar um desdobramento singular e profícuo à trajetória existencial dos nossos filhos. Enfim, é uma mudança de paradigmas, que depende apenas da vontade e boa vontade dos pais, e de mais ninguém.