"Na educação tradicional o educador afirma para o aluno. No modelo ideal ele suscitaria a dúvida..."
Faz tempo que a escola tradicional deixou de ser um ambiente propício ao exercício da boa cognição. A sua pedagogia tornou-se obsoleta e repleta de práticas inúteis, cujo benefício educacional além de quase nulo, só é capaz de criar mais comportamentos patológicos que sadios. Ali deixou de ser um centro de esclarecimento e se tornou um gueto de embotamento cerebral especializado em atrofia intelectual e na prática de ideologias mórbidas.
Um jovem que já sai de casa deseducado, terá seu quadro agravado no meio acadêmico. Ali não se ensina Organização ou Disciplina, muito menos a arte do compartilhar ou do respeito mútuo. Sem contar que o ambiente escolar mais se assemelha a uma praça de guerra, onde todos competem entre si por alguma coisa, mesmo sem saber qual é o objeto da disputa, ou que valor prático terá para si aquele ganho.
A escola que conhecemos não tem compromisso com nada, muito menos com os princípios educativos. Trata-se apenas de um local onde os jovens se reúnem para se especializar na arte do aprendizado reverso. Aprenderão o que é profissão, mas não o que é profissionalismo. Ensinam a não duvidar, a competir até pelo direito de entrar primeiro na sala de aula, mas nunca sobre bons modos, bom senso, cidadania, tolerância e respeito. De fato, primariamente isto deveria ser Papel dos Pais, mas, secundariamente, uma pedagogia a ser reforçada pela escola.
Ensinar para a vida, isso deveria ser uma disciplina formal. Mas, dificilmente há um educador que se mostre conhecedor desse conceito. E naquele ambiente que deveria ser propício para o despertar e Potencialização das Vocações, para a prática do companheirismo e do pleno exercício do princípio da dúvida, servindo ainda como uma confiável fonte complementar de inspiração e disseminadora da boa educação, não é isso que os jovens irão ali encontrar.
Por que a escola não ensina para seus alunos o que significa o respeito e a consideração? Por que a ciência da vida é deixada de lado e substituída pelo culto às coisas inúteis? Por que não se fala sobre Sexualidade, uma vez que essa pauta é um dos maiores problemas na formação dos jovens, que, desinformados, acabam por cair nas armadilhas da ignorância patrocinada por uma corrente midiática que vê na bizarra patologia dos excessos uma evidência de evolução?
Por que não se fala sobre saúde, noções de higiene, cidadania, educação financeira, carreira profissional e, especialmente, sobre a vida? E sobre os malefícios e a degradação patrocinada pelos vícios, afinal de contas, tudo isso não faz parte da vida de qualquer cidadão civilizado? Não seria o papel de uma escola dar um mínimo de esclarecimento ou qualificação a este jovem, para que um dia ele seja capaz de interagir com o máximo da vida?
Por que não se trabalha exaustivamente sobre o processo da vocação individual de cada um, ou simplesmente esclarecendo sobre as características de cada profissão? Se por regra já saem de casa desinformados, não poderão descobrir nada disso sem ajuda, e o mais importante, a tempo de decidirem de maneira lúcida qual é o nicho profissional mais calibrado com suas inclinações naturais.
E os educadores, qual o seu verdadeiro papel? Distribuir tarefas em sala de aula para depois corrigir? Ocorre que o próprio educador raramente é qualificado na ciência da vida, nem exerce sua profissão por vocação. Sem contar sua crônica insatisfação com a remuneração, condições de trabalho degradantes – isso inclui suporte material aos alunos –, carga horária excessiva, falta de segurança pessoal, e ainda a absurda desvalorização profissional. Dá para imaginar as consequências óbvias de tudo isso?
No modelo formal de educação há uma ênfase em condicionar o aluno para que um dia venha a se tornar o funcionário de uma corporação qualquer, um cativo dos favores alheios, alguém cuja colocação profissional e meio de sobrevivência dependa exclusivamente de um empregador. A regra, dentro e fora das academias de ensino, é criar uma mentalidade onde o ato de procurar um emprego depois de formado seja uma espécie de Objetivo Existencial clássico.
Motivo pelo qual nunca se fala da condição mais inteligente que seria a criação de um espírito independente, onde o indivíduo seria capaz de criar seu próprio trabalho, o que significaria tornar-se empreendedor. Mas a escola não valoriza a autossuficiência, uma vez que ela própria é uma instituição cujos alicerces foram construídos sobre o principio da dependência.
Sem contar que a maioria dos pais e educadores também desconhece a própria vocação. São filhos de uma arcaica pedagogia voltada para a acomodação e conformismo; uma armadilha que capturou a todos enquanto ainda jovens e imaturos.
Trata-se de um modelo que mais se assemelha a didática dos tempos medievais, onde a condição para se tornar vassalo e infeliz eram as únicas alternativas permitidas ao cidadão comum. E por mais bizarro que pareça, naqueles tempos, onde a ideia de sofrimento institucionalizado pelas doutrinas religiosas fazia parte da tradição, o conceito era vendido como um presente dos deuses, um ingresso indispensável para a entrada no reino dos céus.