Autor: Jon Talber[1]
Atualizado: 30 de Maio de 2022
Descubra qual a importância de compreendermos o papel dos gêneros na formação da personalidade infantil e como podemos contribuir para que isso não se transforme em um problema social que ameace a convivência entre as crianças de hoje e os adultos de amanhã.
"Lembre-se sempre de que, o resultado das ações do potencial adulto que está naquela criança, depende da qualidade da instrução que ora recebe do adulto já formado que está à sua frente..."
Não valorizam o fato mesmo quando se dão conta de que uma possui um órgão sexual diferente da outra. Na verdade, para elas, menino é aquele que tem cabelo curto e menina quem tem cabelo comprido, o que na verdade já é um estereótipo social criado pelos adultos. E mesmo as peculiaridades do temperamento de cada gênero, são categoricamente desprezadas.
Na realidade, os adultos cuidam para que desde o início a aparência transforme os gêneros em diversidade e antagonismo. Para uma criança pequena isso não tem a menor importância, pois, as diferenças ocultas, até favorecem o desenvolvimento compartilhado. Os temperamentos distintos são encarados por elas como atributos complementares, uma forma inteligente de convivência onde as carências de um gênero são supridas pelo outro. É como no caso das mãos, onde cada uma com tempo desenvolve peculiaridades próprias, mas que no geral se complementam para suprir as demandas do seu hospedeiro.
E logo depois de nascidos os nossos filhos, nós, os adultos, apressamo-nos em nutrir em seus inconscientes o que primeiramente são: mulher ou homem. O que acaba por exacerbar de maneira exagerada os traços idiossincrásicos que cada gênero traz do berço. E como também já temos um padrão usado para moldar cada gênero, isso complementa a primeira parte deste peculiar processo de condicionamento patológico que irá transformar menina e menino em entidades antagônicas, desiguais e divergentes entre si, predestinadas a viver eternamente em conflito.
E então repetimos os estereótipos já criados para consolidar às primeiras diferenças que deverão existir entre os gêneros. São as roupas, os brinquedos, os hábitos, e assim por diante. Na verdade, uma criança não precisa de nossa ajuda para aprender a diferenciar os indivíduos do sexo oposto, uma vez que isso deveria ocorrer de maneira natural, sem depender dos costumes e tradições que acabam por criar e perpetuar estas linhas divisórias desnecessárias entre os gêneros.
A convivência pacífica entre os gêneros deveria ser um processo natural, sem depender de nossa interferência. O convívio entre gêneros opostos contempla ao mesmo tempo a evolução do seu corpo sensorial sincronizada com o psicológico. E tão logo introduzimos no mundo destas crianças os clichês criados especialmente para categorizá-las por sexo, corrompemos, adulteramos e deformamos este ciclo de aprendizado espontâneo.
E tão logo as crianças são segmentadas por gênero, também instigamos o culto às diferenças e a prática do preconceito, um comportamento que se estenderá para todas as áreas do convívio humano. E fazendo seu papel, uma poderosa alça do sistema econômico, a máquina corporativa indutora de hábitos, logo se encarregará de apoiar, alimentar e fortalecer esse status. E há também dentro das sociedades a questão do poder, onde o desejo de dominação de um congênere sobre outro depende exclusivamente da existência destes parâmetros, ou ritos da tradição.
O projeto que segmenta os gêneros normatizando os estereótipos característicos de cada um foi idealizado por esse Mecanismo Social doente e inserido em nossas vidas como um padrão habitual e necessário. O pior de tudo é quando nos convencem que se trata de um processo natural, fundamental para o desenvolvimento sadio de cada indivíduo. E sem perceber, nos tornamos agentes multiplicadores destas anomalias. E até nossas emoções foram cuidadosamente planejadas, e assim, naturalmente tratamos cada sexo como entidades antagônicas de fato.
Existe até mesmo um protocolo, que é na verdade um gabarito de procedimentos e regulamentos, orientando como pais e mães deverão condicionar seus filhos e filhas, evidentemente, com a devida distinção, caracterizando, ilustrando com uma didática bizarra as diferenças irreconciliáveis que supostamente existem entre cada gênero. Trata-se de um modo operacional para lidar com meninas e meninos. Assim, os conteúdos psicológicos, interesses, objetivos e até as emoções, tudo isso será fracionado, seguindo à risca a orientação imposta pela influência de tais demandas corporativas, tradições e costumes patológicos.
Como resultado, substituímos seus temperamentos ingênitos por mórbidas cópias virtuais ou aberrações comportamentais criadas por nós.
A convivência espontânea, sem a imposição dos nossos preconceitos, vícios e manias, faculta também o autorrespeito incondicional, e tudo isso, de acordo com suas limitações, inclinações e disposições inatas. Estarão vivendo num mundo novo, já que cada dia será de novas descobertas. Não aprenderão que menino é o indivíduo vestido de azul que brinca com carrinhos, nem que menina é aquela que prefere a cor rosa e brinca necessariamente com bonecas. Muito menos que meninos são agressivos e as meninas meigas. Descobrirão se tudo isso é verdadeiro ou falso, naturalmente, sem a estúpida intermediação dos adultos já contaminados por um status existencial de incompetência crônica.
O convívio sem a instituição do gênero permite que compreendam naturalmente o papel de cada um. Não tentarão subjugar um ao outro; nem haverá a necessidade do gênero dominante, pois isso apenas existe a partir do momento que instituímos o fraco e o forte, o inferior e o superior, o dominador e o subjugado.
Se fisiologicamente os gêneros são diferentes, isso também reflete de maneira decisiva na parte psicológica de cada um. O cérebro masculino enfatiza o movimento e a mecânica dos processos, assim como a compreensão dos espaços físicos, dimensionamentos e formas geométricas, ou seja, o lado racional de cada questão. Enquanto isso, a mulher desenvolve mais a sensibilidade, as emoções, o dom da expressão e comunicação, assim como a fala e a observação, a intuição, o detalhismo, a harmonia, a estética, a organização, disciplina, criatividade e zelo pelas coisas.
E assim, todo traço próprio de cada gênero é obra intencional de parte da natureza, para que se ajudem mutuamente, o que caracterizaria o permanente convívio ressonante, e não o estado de competição patológica, divisório e conflituoso que conhecemos tão bem; que instituímos como norma de vida e com nossa estupidez ajudamos a perpetuar.