Autor: Jon Talber[1]
Conteúdo Revisado e Ampliado: 16 de Novembro de 2020
“Certa vez, um lenhador comprou um machado com cabo de ferro por se dizer defensor do meio ambiente, quer dizer, amigo das árvores...”
"Um animal irracional é domesticado pela indução ao medo e promessa de recompensas... Será que nós, como animais racionais, também precisamos adotar na íntegra esse mesmo modelo cognitivo como regente para nossas vidas?"
O mesmo ocorre quando introduzimos em suas vidas as fantasias, os reinos mágicos e os mundos encantados, criados para entretê-las. E aparentemente o que esperamos obter a partir dessa abordagem deveria ser uma qualificação cognitiva diferenciada, um molde que supostamente funcionaria como uma espécie de chave capaz de incitar e potencializar suas sinapses criativas. Mas, a despeito do que preconizam os teóricos da educação, aparentemente, ao longo das incontáveis gerações sob jugo de tais métodos, a medida tem sido ineficaz.
Mas, para uma bem estruturada e sólida indústria, a mesma que é responsável pela criação e manutenção de tais fantasias com seus espetaculares e atraentes mundos, há uma consequência, ou seja, o lucro. Pelo menos para eles a empreitada é um projeto bem sucedido. Mas, para eles, o que menos importa é a qualidade da educação colocada à disposição dos nossos filhos. Por trás de tudo isso há a tremenda força máquina publicitária e dos formadores de opiniões a tentar nos convencer de que todo esse circo mágico, além de necessário, é o caminho mais inteligente na trilha da pré-qualificação de crianças e jovens.
A Diversão, como uma atividade lúdica com objetivos cognitivos, para o desenvolvimento salutar da psique infantil, é imprescindível. Mas, para criar um ambiente alegre, divertido, cativante, e ao mesmo tempo com potencial cognitivo de valor, não precisamos nos ausentar do mundo real. Não se edifica uma realidade, nem se pré-qualifica um cérebro que deverá estar apto a resolver problemas concretos, usando como alicerce uma concepção surreal.
Para uma criança, não existe o conceito de fantasia ou de um mundo de faz de contas capaz de acomodar o impossível; existe apenas a realidade, e, para ela, tudo aquilo é real. Seus olhos e sentidos ainda não estão aptos a ler e interpretar a realidade com a mesma precisão que o fazem os adultos.
No entanto, para elas, ficará para sempre a mensagem de que nossos problemas reais serão solucionados por heróis mágicos dotados de força infinita; ou ainda por objetos místicos que transformam pedra ou ouro, sempre que evocados, e o mais importante, sem demandar nenhum esforço pessoal ou mudança de postura.
Ora, se os jovens estão aptos a assimilar tecnologias complexas, por que não estariam aptos a compreender coisas infinitamente mais simples como são os problemas estruturais e corriqueiros que rondam o ambiente doméstico? Expor um problema não significa delegação ou transferência do problema para eles. O ato de compartilhar serviria como informação, para cientificá-los de que problemas existem; são partes indissociáveis e importantes da realidade humana.
Formar crianças livres e felizes não é nossa meta; na verdade não temos nenhuma meta. O ato de ser bem sucedido, em nossa pauta existencial, se limita a ter uma profissão rentável e uma qualidade de vida suportável. E assim passaremos a vida, mas sempre à espera daquela transformação mágica que virá de fora para nos remediar por dentro, remover nossos problemas e suprir nossas carências.
Mas, esse dia nunca parece chegar. Por isso trabalhamos com afinco, resignados, confiantes nas promessas dos nossos respeitáveis guias, ora no papel de ministros religiosos, políticos, gurus e autoridades doutrinárias, cujo discurso não se deve contestar. Suas palavras nos confortam; nos acalentam. Dizem o que queremos ouvir, e parecem saber exatamente do que precisamos; em nossa imaginação, parecem conhecer o caminho capaz de nos conduzir a um estado de paz eterna.
E há sempre a esperança de dias melhores. E como cegos seguindo um cão guia, preferimos nos encolher na acomodação, na crença de que tais autoridades, embora, paradoxalmente, sejam os mesmos autores de toda confusão no mundo, estejam zelando para que este advento maravilhoso um dia se torne realidade. Eis a fantasia que temos a oferecer como herança existencial para nossos filhos.
“Os pais precisam entender de uma vez por todas que as bases para a construção de um caráter sólido sempre começa e termina dentro de casa. Na escola e na rua ele será posto à prova, e voltará para casa melhor ou pior; tudo vai depender da qualidade dos exemplos e princípios assimilados a partir dos seus preceptores...”
Poderíamos explicar para nossas crianças que suas mães, mensalmente, padecem de um transtorno hormonal chamado TPM ou Tensão Pré-Menstrual, coisa natural, trivial, parte inseparável do processo fisiológico feminino. Um distúrbio capaz de capaz de causar variações em seu estado emocional, tornando-a mais sensível, irritadiça, ansiosa, nervosa. Um transtorno que, do ponto de vista dos filhos ignorantes em relação ao fato, vai parecer implicância, birra pessoal, perseguição ou intolerância.
Não estaria neste simples esclarecimento a solução de muitos problemas de relacionamentos entre mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs? Se aquilo representa um problema para os adultos que já conhecem o distúrbio, imagine para crianças sensíveis, emocionalmente instáveis, que tendem a levar tudo pro lado pessoal?
Cuidar para que os jovens compreendam por meio do esclarecimento a natureza desse estado hormonal e anímico, uma força capaz de desorganizar a estabilidade emocional das mulheres, decerto, evitaria muitos conflitos. Cientes do fato, até que poderiam ajudá-las a superar de maneira menos traumática esse ciclo. Se as crianças são capazes de compreender o complexo processo de programação de um computador, não estariam também aptas a entender esta coisa mais simples?
Estudar os limites de compreensão de cada idade, o que cada faixa etária é capaz de assimilar, isso deveria ser um quesito regular na grade curricular das escolas e de todos os magistérios domésticos. Do mesmo modo que se institui a adequação de brinquedos, filmes e programas por faixa etária, por que não instituir uma adequação daquilo que cada indivíduo em crescimento, usando os mesmo parâmetros, é capaz de intelectualmente assimilar?
Por que os pais esperam pelos educadores, enquanto os educadores esperam pelos especialistas, que por sua vez esperam pela oportunista Indústria dos Padrões de Entretenimento e desconstrução cognitiva para decidir o que fazer? Ou você ainda acredita que nesse meio corporativo exista alguém bem intencionado e que está seriamente preocupado com a evolução da cognição, qualificação comportamental ou qualidade de vida dos nossos filhos?
Ensinar nossos filhos pela forma mecanicista, pela força da tradição e costumes, de modo que nunca são solicitados a pensar antes de agir; onde basta ser capaz de imitar ou repetir mímicas; onde nunca é levada em conta sua capacidade pessoal de assimilação do conhecimento e onde todos são tratados como simples animais amestrados, isso, definitivamente, não pode ser chamado de educação.
Mas, para se construir mundos de mentira, repletos de fantasias bizarras, habitados por indivíduos dotados de uma mentalidade psicopatológica, este modelo serve perfeitamente. Desse modo, o que podemos senão esperar que construam um mundo igualmente distorcido e caótico, cuja aparência será cada vez mais deplorável, e cujo conteúdo terá no absurdo seu ponto de ancoragem?