Autor: Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 14 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Um processo autônomo, como o gesto de engatinhar, depois ficar em pé e eventualmente andar; ou aprender a pegar, segurar alguma coisa, nada disso requer inteligência, uma vez que são processos involuntários, instintivos, naturais, do mesmo modo que o são, o olhar, o olfato ou o ato de escutar.
Já sabemos pegar nas coisas mesmo antes de colocar os pés fora do berço, e com o tempo apenas vamos aperfeiçoar a técnica e incorporar o processo da escolha, assim com novas maneiras de manipular. Em seguida também aprendemos a dar nomes aos objetos com os quais interagimos. E para nada disso é requerida a inteligência, pois trata-se de um mero gesto de repetição, imitação, assim como o faz um papagaio, que é capaz de reproduzir sons que se assemelham aos vocábulos humanos, mesmo sem saber o que significam.
Podemos ter ideias, mas isso na verdade reflete apenas uma forma personalizada de enxergar as coisas; um simples ponto de vista em relação a algo. Desse modo, a ideia atual é construída sobre outra anterior, que ora poderá ser modificada e ganhar aparência de nova. E assim também ocorre com nosso comportamento, que parece coisa nova, quando na verdade apenas o veículo hospedeiro, que somos nós, é novo, a despeito dos antigos hábitos incorporados.
Insatisfação e satisfação, opostos de um mesmo estado anímico, é a causa e o efeito de toda ação humana. É o que determina o que devemos ou não desejar, procurar obter, evitar. É o combustível que nos permite traçar objetivos de vida. E a partir destes dois pontos equidistantes de uma mesma coisa, está centrada nossa incessante busca existencial, sendo também a base onde serão edificadas todas as nuances das personalidades humanas.
E disso também resulta a maioria dos estados emocionais do homem. Tristezas e alegrias, frustração, melancolia e euforia, medo e coragem, insegurança e confiança. A causa de cada um destes estados anímicos está associada ao desejo de se obter satisfação. Mas não aquela de natureza temporária, e sim permanente. Isso implica em ser aceito, bem sucedido, belo, capaz, reverenciado, aprovado, desejado, poderoso, e até mesmo o preferido das divindades.
Compreender por que desejamos sempre mais do que exigem nossas necessidades, este percebimento, desde que ocorra de maneira lúcida e inequívoca, poderia libertar a mente de um Ego acumulador, caprichoso e sempre carente de idolatria e méritos.
Confiança em si mesmo é uma condição psicológica que ocorre no momento em que nos tornamos capazes de enfrentar nossos próprios medos e limitações. É o sentir-se capaz de superar obstáculos que se apresentam como grandes problemas. É a consolidação da automotivação conjugada com um sentimento de certeza interior.
A certeza de que os problemas poderão ser superados não existe na mente de um medroso. Esta qualidade não é inata, mas produto de uma Inteligência que também nunca é espontânea.
Já se sabe que uma criança começa a compilar as informações que farão parte do seu repertório cognitivo e subsequente personalidade alguns meses antes do seu nascimento. E ainda no ventre da mãe, ela escuta, recebe doses de adrenalina e outros hormônios diante das variações comocionais, ou estados de espírito, da gestante.
Nesse estágio pré-natal, ela também desenvolve antipatias ou empatias por pessoas, orientada pelas vibrações do timbre das vozes, processos sonoros e a consequente resposta emocional da mãe. E tudo isso são assimilações, que mesmo sendo involuntárias, irão dar forma a traços marcantes do seu temperamento, aquele conjunto de preferências que mais tarde ajudará a compor sua personalidade definitiva.
E depois de nascida, uma criança que convive diariamente com sentimentos de mágoa, frustrações, ressentimentos e autovitimizações, jamais terá forças, ou disposição, para enfrentar seus dilemas pessoais. Terá sua motivação e energia pessoal drenada e canalizada apenas para expressar os estados de apatia e frustração, que são os sintomas naturais daqueles que insistem em cultivar Mágoas, Conflitos e Frustrações.
Tornar-se-á uma criança incapaz de realizar qualquer ação por conta própria, exaurida e insegura por não se achar apta ou capaz para nada; incapaz de pensar com clareza. E quando adulta, acabará por repetir os mesmos processos que lhe serviram de lastro cognitivo no passado.
E sob o domínio deste ímpeto assediador, não terá forças para reagir diante de problemas, mesmo aqueles não críticos. Tenderá a depender de outros para a solução dos seus dilemas mais básicos. Criamos assim, mais um adepto da acomodação, conformado e preguiçoso pela incapacidade de vencer a si mesmo; inseguro, arredio, intransigente, amargo, mas sempre disposto a encontrar meios de atribuir a outros os motivos para suas frustrações, insucessos e apatia existencial.
Do mesmo modo, quando se exige de uma criança a perfeição, acabamos por criar um individuo isolado do mundo, demasiado crítico, cuja preocupação com a opinião alheia será mais relevante do que sua própria felicidade. Terá medo até dos próprios pensamentos, embora, na maioria dos casos, jamais venha a descobrir os motivos pelos quais age dessa forma.
Mostrar desde cedo, com clareza e cordialidade, sem exigências de impecabilidade, que os problemas poderão ser resolvidos se enfrentados com a devida coragem, este é o papel primário dos pais. Por isso toda criança ou jovem deverá aprender o que vem a ser disciplina, auto-organização, determinação, e finalmente o princípio da dúvida. Esta base vai prepará-la emocionalmente para encarar com maior lucidez as questões mais complexas do viver.
Do mesmo modo, é fundamental fazê-la compreender que os erros, longe de evidenciar fraqueza ou imperfeição, são os únicos guias para os acertos, sendo, portanto, as mais elevadas e úteis práticas cognitivas. Mas este tipo de instrução verbal, sem o devido exemplo a partir da conduta pessoal do seu cuidador, nenhum efeito prático terá.
Caso a criança ou jovem seja capaz de assimilar tudo isso, naturalmente se tornará mais tolerante e flexível em seus julgamentos e objetivos. Desse modo, seu temperamento inato poderá aflorar de maneira natural e saudável. E se antes esse temperamento, sob o jugo da Baixa Autoestima, poderia atuar como agente deformador da personalidade, agora poderá se tornar um grande aliado na potencialização dos seus traços positivos ou virtudes.
Finalmente, devemos nos lembrar de repreender uma falha com orientação, esclarecimento e exemplos recicladores, assim como os acertos com incentivos e dicas de qualificação. Lembrando que no processo de orientação, para que a criança ou jovem venha a demonstrar interesse, a paciência é um item insubstituível e inegociável.
Do mesmo modo, um acerto não se exorta com prendas ou elogios gratuitos e desnecessários, e sim com encorajamento, apreciação genuína, exemplos e demonstrações claras e inequívocas de que aquilo tem algum valor, e mesmo que seja uma obra impecável, sempre poderá ser potencializada.