Neste Artigo a autora publica um estudo prático e repleto de informações que ajudarão você a compreender um pouco mais o complexo problama do medo e seus desdobramentos, discutindo técnicas que irão facilitar seu modo pessoal de abordar e enfrentar o problema.
"A maioria dos nossos receios não são criações espontâneas, mas induções voluntárias patrocinadas por fontes conhecidas..."
Mas, conhecer as causas dos nossos temores, novos e velhos, não resolve, nem explica o problema do medo. A causa é uma coisa, o sentimento ou o efeito psicológico do medo é outra. As causas, estas podemos evitar; o sentimento de medo, aparentemente não. E embora conheçamos as inúmeras causas dos nossos medos, aparentemente, quase nada sabemos sobre a dinâmica do mecanismo ou gatilho que os tornam ativos provocando tantos efeitos emocionais desagradáveis.
Num primeiro momento, quando avaliamos as causas dos nossos medos, logo fica evidente que se trata de uma condição onde nossa estabilidade física ou emocional está sob ataque de alguma injunção sobre a qual não temos controle. Mas sabemos de uma coisa: trata-se de algo contrário à harmonia dos nossos hábitos ou rotina.
No entanto, o objeto causador do medo não é o medo, apenas a circunstância ou conexão por meio da qual o estado medo ganha forma e se autoexpressa. E assim, usando este motivo como via de acesso, irá emergir dos recantos profundos da nossa psique e ungir nosso veículo somático com seus efeitos indesejáveis.
O ato de escolher é uma condição conflituosa. Escolho porque tenho as opções. Escolho porque estou confuso. Escolho porque desejo o melhor dentre as alternativas disponíveis. Desejo enfim, garantia de satisfação. E quando se busca garantia em alguma coisa é porque não há garantia em coisa alguma. É porque há a possibilidade de que aquilo não se concretize ou perdure o tempo que julgamos necessário, motivo pelo qual surge o sentimento de insegurança, uma das formas primárias do medo. Medo de perder o que já temos; medo de não conseguir; medo de não nos tornarmos aquilo que ainda não somos.
O nosso instinto básico de autopreservação nos diz para evitar qualquer situação capaz de por em risco nossa integridade física. Esta condição, comum até entre as plantas, não foi criada pelo pensamento; não depende de conceituações, tratados ideológicos, pragmatismos sectários ou acadêmicos. Trata-se de um processo espontâneo. Isto significa dizer que nossos sentidos estão preparados desde o berço para se comportar desta maneira.
Por isso as experiências negativas são memorizadas como objetos indesejáveis. A lógica é simples: um erro deve servir de referência para os acertos, nunca de referência para novos erros. Memorizada a experiência, está resolvido o problema.
Nenhum evento poderá estar dissociado do seu objeto ou causa motivacional. Desse modo, há sempre um objeto que nos conecta diretamente com qualquer situação vivenciada ou problema, seja qual for sua natureza, e cujo resultado seja capaz de nos proporcionar insatisfação ou prazer.
Ocorre que nosso pensamento está contaminado, condicionado pelo princípio da crença, sob o jugo de tratados e dogmas milenares. Ele dificilmente duvida de alguma coisa; nunca questiona, investiga ou explora a fundo a veracidade ou consistência dos supostos fatos, inclusive de suas próprias ideias, ideais, necessidades e certezas mais “consistentes”.
Mas, afinal de contas, o que é o Medo? Será um estado emocional, um mecanismo de origem natural do qual foram dotados todos os seres vivos, ou algo racional, uma exclusividade humana?
Nos animais irracionais, e também em nós, há uma condição que é o instinto da autopreservação. Mas esta não é medo, uma vez que não pode ser racionalizada, calculada, medida, conscientemente avaliada. Não sendo capaz de ser racionalizada, não podemos considerar esta condição como medo. O medo exige uma causa e os respectivos efeitos conscientemente definidos. No caso do animal irracional, existe apenas o ato involuntário e instintivo de autopreservação em ação, o que poderíamos chamar de prudência existencial. É temida, mas não provoca pânico nem outros efeitos emocionais traumáticos, especialmente na ausência dos respectivos motivos.
Assim, o nosso problema é o medo psicológico. Este não depende de uma ameaça concreta e não precisa ter causas aparentes. Este foi criado pela imaginação, com base em suas memórias, experiências do passado, deduções, estatísticas, sugestões.
A essência desse medo está centrada na imprevisibilidade, na expectativa pelos resultados imaginários. Temos medo das consequências, por isso somos tomados pelas emoções. O pensamento fica confuso, não sabe lidar com uma situação de temor imaginário, algo que seja incapaz de tocar e assim dele se esquivar.
Motivo pelo qual, desesperado, busca em seu banco de experiências pessoais respostas prontas, uma solução rápida capaz de não tirá-lo de sua zona de conforto; um modo confortável de não comprometer seu prazeroso tempo ocioso. Mas, o que pode parecer adequado ou sensato para uma mente confusa, desorientada, emocionalmente tomada pelo iminente pavor imaginário de perder alguma coisa?
Este é o problema de uma mente enclausurada pela força dos costumes e tradições. Um cérebro condicionado nunca aprendeu a pensar, a questionar, a duvidar, e por isso prefere imitar. Está repleto de crenças e se recusa a refutar a veracidade de qualquer coisa. Deixou de ser curioso, tornou-se irracional; acredita que seus temores imaginários são reais, a exemplo de todo seu imenso acervo de convicções pessoais.
Descobrir do que temos medo só tem valor se também estivermos dispostos a descobrir porque o temos. E descobrir por que temos medo de alguma coisa só tem valor se estivermos dispostos a compreender este medo. Compreender por que ele, mesmo sendo, na maioria das vezes, apenas uma condição imaginária, é capaz de nos abalar emocionalmente de maneira tão brutal.
Mas, somos preguiçosos e acomodados por natureza; nunca queremos nos aprofundar nos motivos condutores do efeito medo. Isso exige esforço, mudanças em nossas crenças pessoais e paradigmas existenciais. Além disso, os tais motivos poderão revelar traços de nossa conduta que preferimos ocultar, esquecer, ignorar. Compreender tudo isso pode nos conduzir ao eixo central do verdadeiro problema.
Durante o autoexame dos nossos medos, fundamental é examinar quais são as possíveis conseqüências ou malefícios que me afligem. Precisamos avaliar o que é racional, lógico, verdadeiro. Meus temores estão ancorados em fatos, evidências concretas, ou têm como base apenas ideias, conjecturas, crenças dogmáticas, opiniões, mitos ou fantasias imaginárias criadas a partir de um pré-condicionamento patológico?
Se não me sinto capaz de assumir responsabilidades, preciso me perguntar qual é o verdadeiro motivo dessa insegurança. Deve existir algum receio; uma consequência capital que me atemoriza. Esta consequência põe em risco minha integridade física, está amparada por fatos, é coisa real, comprovada, irrefutável, inevitável ou insolúvel? Quase sempre um problema insolúvel depende apenas de uma mudança de paradigmas em relação a ele.
Para toda insegurança há sempre um motivo. Procurar meios de mascarar minha insegurança não resolve o problema. Preciso constatar se ela é real, e o mais importante, reconhecido o problema, aceitar que o tenho. Admitir uma fraqueza pessoal ou falha não é uma evidência de insuficiência ou inferioridade, mas de humildade e coragem, um caminho natural para a cura. Muitas vezes temos medo apenas de situações ou condições que para nós são desconhecidas.
Os efeitos psicológicos de todos os nossos medos estão centrados em um ponto: Nosso sentimento de incapacidade ou impotência para resolver uma questão. Buscar alternativas, ou mesmo abrir mão de algumas convicções, pode ser um caminho inteligente. Lembre-se, uma mente atemorizada se torna estreita, limitada na forma de pensar; cega, inflexível na hora de buscar uma saída. E uma doença sem um diagnóstico preciso é um mal para o qual não existe cura.