Autor: Jon Talber[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
E parece que todos nossos esforços em resolver, mesmo os problemas mais simples, se limitam a explorar apenas a superfície do terreno onde foram incubados e germinados. Quase nunca adentramos examinando a fundo todas as nuances da questão problemática, e como regra, acabamos por nos conformar com as soluções paliativas, aquelas com potencial para nos proporcionar uma compensação imediata ou um maior nível de satisfação, ainda que seja temporária, e o mais importante, com uma cota mínina de esforço.
Desse modo, na maioria das vezes, além de não resolvermos definitivamente o dilema conflituoso acabamos por criar outros. E uma causa com apenas um efeito que poderia ter uma repercussão simples, logo se torna complexa, se alastra, tomando proporções que se estenderão para além do nosso alcance. Ainda não assimilamos uma regra profilática básica: “Problemas mal resolvidos, velhos problemas consolidados. Desprezar os possíveis efeitos de uma escolha feita ou por fazer, é a certeza de novos problemas potencialmente criados ou incubados...”
E embora todos saibam que a Prevenção ainda é o mais eficaz remédio para minimizar ou evitar a surgimento de novos Problemas, a prática da profilaxia não parece atrair muita gente. A atitude preventiva seria um natural e sensato gesto defensivo e uma evidência de que ali há inteligência em uso. E se a erradicação de um problema já existente requer aplicação, organização, disciplina e sensatez, a prevenção ou profilaxia é uma evidência de que ali há um cérebro lúcido em atividade.
Ter capacidade e habilidade para resolver Conflitos não é grande coisa, mas aprender a evitar que tomem forma, isto sim seria coisa relevante. E se os conflitos representam as grades do nosso cativeiro, eliminar suas larvas antes que aprendam a voar e se tornem capazes de fundar novas colônias e se multiplicar, certamente iria nos proporcionar um singular sentimento de liberdade. Liberdade não é algo que se consegue ao final da trilha, mas muito antes, quando temos plena consciência de que ela é possível.
Mas, ao contrário da crença comum, não pode existir competição sem conflito. De fato, a Competição em si já é um conflito, uma vez que estamos diante de antagonistas que disputam entre si a posse de alguma coisa, seja material ou imaterial, que aparentemente não está disponível para todos de maneira equânime. Antagonismo é guerra, é o inverso de conciliação ou harmonia, e se opõe ao sentimento de coletividade, partilha e compartilhamento voluntário. Trata-se de uma condição que enfatiza e prioriza o individualismo e a exacerbação de um Ego, por natureza, sádico, predador, patológico.
Atualmente, se afirma cada vez mais uma Corrente Retórica que se apresenta como um movimento cujo papel é maquiar e esconder imperfeições, deformações sociais e desvios comportamentais, de modo que tudo isso seja aceito com naturalidade. Trata-se de uma casta ideológica que está infiltrada em cada nicho do bioma das relações humanas, criando novos comportamentos insanos, reforçando, consolidando e potencializando velhas e novas anomalias já consagradas.
É como no caso das mensagens categorizadas como “éticas” ou “politicamente corretas” já integradas à nossa tradição, vocabulário coloquial e culto. Entre elas estão as frases de alerta que, por força da lei, algumas corporações, a exemplo dos fabricantes das "drogas lícitas”, como forma de esclarecimento ao seu público consumidor ou contingente de dependentes, são obrigadas a veicular agregadas às suas campanhas publicitárias.
E a despeito das incontáveis famílias que serão destroçadas pelas malhas dos vícios e seus efeitos devastadores, aos olhos das “Agências Reguladoras Oficiais”, e mesmo diante da opinião pública, a disseminação generalizada destes vícios entre todos os degraus sociais, não passa de uma atividade econômica de grande valor com finalidade recreativa, socialmente necessária e politicamente indispensável.
Onde está a falha e os culpados? Segundo o ponto de vista dos órgãos reguladores e fabricantes, não existe falhas ou culpados, afinal de contas, os novos aliciados ou antigos dependentes foram previamente orientados a “Consumir com moderação...”, apesar do forte apelo implícito nas Sedutoras Campanhas Publicitárias dirigidas aos seus adeptos incitando, induzindo-os por meio de sofisticadas técnicas hipnóticas para que façam exatamente o oposto.
Errar a partir dos acertos não pode ser considerado um sinal de inteligência. No entanto, os Erros, se bem avaliados, estudados e compreendidos, tornam-se uma das mais ricas fontes de reciclagem pessoal. Sem eles não existiriam os acertos. No entanto, um acerto sem os devidos aperfeiçoamentos ou requalificação torna-se estático, morto; tende a se transformar em um erro. Assim, acertar e cair na estagnação ou acomodação pode ser considerado um erro duplamente qualificado.
Mas a inteligência não pode existir sem o Princípio da Dúvida, Pensamento Divergente ou Crítico, que antagoniza com o status do protagonista ideológico ou religioso tradicional, cuja crença ou preceitos doutrinários o impede de questionar qualquer coisa. Nesta condição, torna-se impossível o advento da Reflexão Criativa.
A Reflexão Criativa é aquela qualidade do nosso discernimento cujo escopo e objetivo principal é a promoção do inventário de todo acervo de nossas falhas pessoais, assim como das distorções de personalidade identificáveis, sem esquecer os entraves que precisam ser tratados; alguns reciclados, outros descartados e banidos para sempre do condomínio de nossas personalidades.
E neste caminho, descobrir aquilo que somos e como nos relacionamos com o mundo e nossa imensa coleção de conflitos é fundamental. Nesta empreitada estamos diante de duas categorias de indivíduos. Os primeiros, são aqueles “Ignorantes”, e que se reconhecendo como tal, desejam mudar. Os outros são os ignorantes arrogantes, que indiferentes a tudo isso, estão firmemente empenhados em aperfeiçoar suas deformações, manias e predisposições patológicas, como se isso significasse progresso consciencial ou evolução pessoal.
Da parte do segundo grupo, nenhuma ação, em direção alguma, é necessária. Neste caso basta que se acomodem sem esperar por nada, pois, segundo sua visão, o mundo assim como está já se configura como um caminho perfeito para sua autorrealização ou projeto de vida.
No entanto, aqueles que fazem parte do primeiro grupo, de posse dos seus atributos ou aportes recicladores, irão naturalmente descobrir que enquanto descortinam, autorrevelam e autorreciclam, tanto os traços falhos quanto os travões de suas personalidades, enobrecem e extrapolam seus traços fortes ou virtudes.
Com este repertório em mãos, aquilo que é de menos se tornará mais; aquilo que é de mais será ampliado, extrapolado. E assim, amparados por este novo compêndio cognitivo, livres de partidarismos, ideologias, pragmatismos sectários e extremismos de qualquer natureza, uma qualidade crítica ou mérito que foi conquistado a partir do pleno Despertar da Inteligência e firme esforço pessoal, finalmente terão encontrado seu verdadeiro caminho existencial, ou pelo menos a trilha capaz de conduzir até o mesmo.