Autor: Prof. Jon Talber e Alberto Filho[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
Artigo onde o autor apresenta Um estudo do comportamento humano, cuja resolução voluntária em se tornar ignorante e insensato, parece ter se transformado em Objetivo Existencial.
"Incapaz de separar o inútil do útil, o excesso de informações não torna o homem mais inteligente, apenas mais ocupado, frustrado e cada vez mais confuso..."
Quando o homem começou a perder a capacidade de pensar racionalmente, um processo gradual e contínuo que começou quando ficavam apreensivos procurando nos céus as pedras rolantes que deveriam cair após cada trovão, seu cérebro, por falta de uso, tornou-se preguiçoso, cada vez mais limitado, fossilizado, calcificado, sem criatividade e paradoxalmente, presunçoso.
Daí sua incapacidade de pensar com coerência, sensatez, ou e de maneira não destrutiva. Assim ele optou pelo processo da imitação, uma vez que é mais simples e seguro; dá menos trabalho, não o cansa, sequer precisa questionar a utilidade das orientações recebidas, e o mais importante, sempre poderá encontrar culpados para justificar seus atos. Seu pensamento se tornou tão reduzido e minguado que ao planejar suas ações, dificilmente consegue levar em conta os efeitos colaterais ou secundários de cada decisão tomada.
Por isso prefere remediar ao invés de prevenir. A prevenção dá trabalho, requer imaginação, disciplina, organização e planificação, e o pior de tudo, exige uma coisa que ele não sabe fazer, ou seja, pensar logicamente por conta própria, com reflexão, ordem, ética, sensatez e ponderação. E ao perder sua disposição para duvidar das coisas, o homem contemporâneo se distanciou ainda mais de sua conquista psicológica mais importante, ou seja, o florescimento da Inteligência.
Aliás, a Inteligência, ao contrário do dinheiro, saúde ou bens materiais, tem como característica uma peculiaridade: quanto mais você a perde, menos será capaz de dar pela sua falta.
Por isso não é possível evitar, por exemplo, de ficar pensando naquela música, conhecida popularmente como música viral ou chiclete, que literalmente grudou nas paredes e dobras do seu cérebro, da qual nem após um ritual de autoflagelação é possível se livrar. E de repente, independente de sua vontade, lá está ela a reverberar dentro de sua cabeça, cantarolando sozinha, como se fosse uma entidade viva, uma espécie de vírus musical de existência autônoma, cujo antídoto, na maioria das vezes, é a sobreposição por outro HIT ainda pior.
Conclusão: para pensar não precisamos de inteligência, basta possuir um cérebro com algumas lembranças lá dentro. Agora, para ordenar, organizar, disciplinar e direcionar de maneira consciente e positiva os pensamentos, para isso, a inteligência é um atributo imprescindível.
Isto implica em afirmar que, para pensar com inteligência, a qualidade das nossas memórias ou lembranças, é o que fará a diferença. Ou seja, um cérebro repleto de bobagens é incapaz de elaborar um pensamento proficiente. Em outras palavras: a boa cognição determina o status, o valor, utilidade e a qualidade dos nossos pensamentos.
É nesse ponto que a nova pedagogia consegue superar a geração anterior. Afinal de contas, em nosso tempo, o novo modelo educacional, na verdade uma colcha remendada com retalhos já desgastados de tecidos imprestáveis, conseguiu a proeza de piorar ainda mais aquilo que já era deplorável.
Por isso reescreveram às pressas o antigo conceito de inteligência, e logo cuidaram de espalhar a boa nova dentre seus indiferentes súditos. Assim, agora, segundo esta nova catequese, inteligente é todo aquele que prefere remediar ao invés de prevenir, ou que atribui à vida um valor semelhante a um produto comercializável ou commodity.
Assim, após beber com moderação, dirige embriagado e se acha superior porque conseguiu driblar os bloqueios policiais equipados com bafômetros – pequeno aparelho usado para medir a quantidade de álcool no sangue do indivíduo. Na verdade, na sua cabeça, este gesto reflete uma evidência inquestionável de sua grandeza intelectual e consciencial. Afinal de contas, ele está praticando o primeiro preceito do novo conceito de inteligência homologado pelo modelo pedagógico em uso: As Leis só têm valor quando ele está no papel de vítima.
E, para comemorar a proeza, mutila o próprio corpo, um gesto que, segundo a nova cartilha pedagógica, lhe confere um status diferenciado dentro daquele meio social. Assim, ao exibir-se publicamente, já que a única função prática da automutilação é o exibicionismo, ele cria uma identidade segregada das demais, a exemplo de grupos nacionalistas ou étnicos, ideologias radicais, ou mesmo dos movimentos sectários extremistas, cuja máxima e princípio doutrinário básico é a negação sumária e intransigente de todas as demais crenças ou postulados sacros.
E nesse novo sistema educacional, onde aprender a aprender é visto como uma espécie de pecado capital ou infâmia, destruir é sinal de inteligência, enquanto que construir é um gesto herético ou patético.
Assim, os políticos corruptos proliferam como fungos na pele dos leprosos não cuidados, enquanto os telespectadores apáticos, diante de seus aparelhos de TV ou canais midiáticos, vivem o drama dos personagens virtuais de sua trama novelesca, Realities Shows ou teatros de influenciadores e criadores de opiniões sem propósitos existenciais concretos, e sempre a espera de orientações para direcionar seu apático viver.
E acomodados em seus cativeiros, indiferentes ao destino aguarda a todos, ainda acreditam que o capataz encarregado de conduzi-los ao matadouro é na verdade uma espécie de emissário ou missionário divino, que foi encarregado de conduzir a um paraíso idealizado de acordo com as demandas de cada partidário, e sempre em troca de um sacrifício pessoal de cada protagonista, ou uma simples e generosa doação à causa.