Autor: Alberto J. Grimm[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
As novas técnicas e estratégias de marketing que são usadas pelos fabricantes de bens duráveis para atrair novos consumidores para os seus novos velhos produtos.
"O tamanho da angústia de cada um se mede pela quantidade de desejos não realizados..."
Pouco depois do nascimento, quando informalmente somos instruídos sobre as primeiras noções de mundo, o conceito de que as coisas são temporárias se apresenta como nosso primeiro grande problema, ou recheio para nossas angústias. Eis o motivo pelo qual o desejo de estabilidade, rotina ou regularidade logo se apresenta como nossa principal diretriz existencial.
Trata-se do desejo de perpetuação das coisas que nos agradam. E há uma evidente sensação de conforto e segurança quando pisamos em terreno conhecido. E assim, o princípio da acomodação, rotina ou “Princípio da Mesmice ou Repetição” torna-se um dos ativos mais preciosos para os indivíduos, e um poderoso propulsor que move todas as economias, movimentos sectários e ideológicos, e paradigmas sócio-comportamentais do mundo.
A certeza de que as coisas não são Permanentes nos incomoda. Assim, renovamos nossos móveis, nossas roupas, nossas ideias, ideais e crenças; a pintura das nossas casas. Tudo isso parece nos evocar a ilusão de que se as coisas não envelhecem, o mesmo irá ocorrer conosco.
E se a higiene e limpeza desempenham um importante e imprescindível papel quando o assunto é a qualidade de vida, o conceito de asseio e higienização que a Publicidade usa em suas abordagens tem outro objetivo. Naquele contexto, limpeza significa estabilidade, segurança; uma negação ao natural estado de degradação e transformação que é o padrão determinista e inflexível de todas as coisas existentes dentro do perímetro da natureza. Procure por algo que está imune ao tempo, nunca se degrada, deprecia, muda ou se recicla, e decerto não encontrará.
Tudo que é criado ou não pelo homem obedece a uma lei cíclica e inflexível, onde as coisas envelhecem, já que o tempo cronológico não pode ser contido, e se desgastam por meio do irreversível processo da degradação. Assim é inevitável que a estética do belo mude de maneira dramática, e que o limpo, embora permaneça asseado, adquira as indeléveis marcas de expressão que revelam o evidente fim do seu prazo de validade temporal.
A ilusão do novo e asséptico tem para nós um significado mais profundo que a simples noção de limpeza ou higiene; vai além do conceito de avanço em qualidade de vida. Psicologicamente, ela representa a possibilidade concreta da perpetuação de uma coisa que nos agrada, e à qual nos apegamos. E manter aquilo sempre renovado induz a ilusão de que é possível a eternização, estabilização, o que consolidaria o conceito de longevidade, e talvez até, a tão proclamada e desejada vida eterna.
Por isso idolatramos a cosmética sempre jovial das aparências. Mas, para nosso desgosto, vivemos num mundo de coisas velhas, onde nada nunca é verdadeiramente novo. Novidade não é o novo, trata-se simplesmente do velho que ainda desconhecíamos. E, muitas vezes, trata-se de uma mesma condição que ora apenas se apresenta diante de nós com um novo arranjo, maquiagem ou indumentária, ou simplesmente em diferentes vitrines.
A estética das coisas sempre renovadas a todos fascina, uma vez que parece refletir um desejo profundo que existe dentro de cada indivíduo, onde ele poderia se restaurar a cada nova estação; de renascer sem deixar marcas após cada desgosto, desilusão ou frustração; de se refazer depois de cada erro cometido ou fracasso experienciado.
Segundo essa lógica, torna-se fundamental eleger alguém que julgamos qualificado para nos guiar. Por isso a autoridade tornou-se uma figura tão importante em nossas vidas. Afinal de contas, ela é a conhecedora de todos os caminhos e supostamente representa a única matriz ou meio de transporte capaz de nos conduzir com segurança em direção à estabilidade que tanto buscamos em nossos relacionamentos, seja com pessoas, objetos, ideias, ideais, ideologias, crenças religiosas ou simples alienações.
Eis a razão do sucesso por trás da ideia de renovação patrocinada pela indústria do consumo, um conglomerado de muitas faces, seja na confecção e patrocínio de bens duráveis, ou apenas no fabrico e consolidação de dotes ideológicos e crenças espirituais; um poderoso mecanismo que alimentamos com nossos sonhos, dentre eles, o da conquista das coisas impossíveis.
Mas a conquista do impossível não é ideia nossa, trata-se apenas de mais uma estratégia criada para favorecer o consumo, seja de bens duráveis, seja de ideias, ideologias, crenças ou conceitos abstratos. Trata-se de uma proposta fascinante, uma vez que colocar os pés dentro do impossível nos tornaria materialmente e espiritualmente diferenciados; mais poderosos, apesar de que a mesma mensagem é transmitida e absorvida por todos.
E tudo começa quando chega aos ouvidos do consumidor a informação de que os produtos em suas mãos tornaram-se obsoletos, ultrapassados, capazes de degradar sua Força Presencial, Pedigree e o sedutor e tão desejado Status Social.
Brilhante e criativo é o propósito por trás desta peculiar abordagem, que se baseia em um conceito bastante simples: O indivíduo que ostenta um produto “obsoleto”, ou se posiciona com uma ideia, ideal, crença ou postura fora de moda, ou em distonia com as últimas tendências, está deslocado do seu tempo, ultrapassado, inferiorizado, desgastado e em ritmo acelerado de deterioração, declínio pessoal e ostracismo social.
É o conceito da aparência como força capaz de incrementar ou inferiorizar a importância social de cada indivíduo. E como no consciente de cada indivíduo a estética de uma aparência de plástica impecável, sempre em dia e renovada ainda é o seu bem mais precioso, a estratégia funciona. A depreciação de uma posse ou ideia, não importa qual seja sua natureza, na mente do consumidor significa a sumária inferiorização do seu Status Social, a inexorável certificação de sua própria decadência ou deterioração.
É por isso que em público, para muitos, ainda é evidente o desconforto e constrangimento quando da inevitável exposição ou ostentaçao de uma ideia, crença religiosa, ideal ou simples objeto de uso pessoal de qualidade inferior, ultrapassado ou comercialmente, por estratégia de marketing, tornado velho.