Autor: Alberto J. Grimm[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
"O Cúmulo da Ignorância consentida é quando precisamos da notivação da justiça para nos obrigar a cumprir com nossos deveres..."
E embora possamos nos iludir com as aparências de vitrines cada vez mais requintadas e com isso acreditar que estamos avançando, psicologicamente, continuamos tão primitivos quanto nossos ancestrais das cavernas, quando os dias eram pontuados pelas superstições e o paranóico medo da noite.
Então, triunfalmente, surge em nossos dias, o homem problema. Mas não se trata de um homem sujeito à ação dos problemas, e sim um homem gerador de seus problemas, uma vez que, conforme demonstra, não mais é capaz de viver sem eles.
E contrariando todas as regras do bom senso, não faz isso porque eles sejam necessários ao seu viver, e sim porque se tornou a principal engrenagem e o mais importante ativo social e financeiro da moderna civilização. E assim, além de se comportar como viga de sustentação para manter viva a estrutura social, os problemas põem em movimento as engrenagens econômicas, religiosas e políticas de todas as nações deste mundo.
Por isso o esmerado esforço das instituições sociais, quando vão a campo, numa espécie de cruzada sacra, cuidando para que os problemas nunca sejam erradicados, e sim, ao invés disso, renovados, aperfeiçoados, reforçados, ou de preferência multiplicados. E enquanto os cientistas urbanos não encontram meios para torná-los insolúveis, os gestores sociais se encarregarão de criar novas fórmulas capazes de fortalecer os antigos, de modo que seus efeitos permaneçam sempre ativos.
Isso talvez explique o motivo pelo qual a maioria das Soluções para os nossos Problemas tem sempre como objetivo a criação de outros mais consistentes. Mas, isso pouco importa, pois na mesma proporção em que são criados, há uma sofisticada máquina encarregada, não de tentar solucioná-los, e sim de apenas suavizá-los com sofisticados remendos, por definição, mal feitos, e como não poderia deixar de ser, intencionalmente construídos com materiais que rapidamente se degradam.
E traçamos tantos desejos, metas e resoluções para nosso futuro, que logo a ideia de uma vida adicional para a conquista de tudo isso se mostra como uma proposta bastante atraente e ponderável. Enquanto isso, nossas preferências e carências, mudam ao sabor do ritmo das tendências do marketing e campanhas de varejo das grandes corporações, grupos comerciais, ou modismos patrocinados pelos modernos influenciadores digitais.
Quando avaliamos as Causas de grande parte do nosso Sofrimento Psicológico, onde estão incluídas nossas frustrações ou alegrias, certamente que as carências consumistas não são novidades. E assim, como há o temor de que todos os nossos desejos não sejam supridos, há também o receio de que venhamos a perder tudo aquilo que já foi conquistado.
A sociedade nos oferece a possibilidade de sonhar com o que gostaríamos de ser e ter, e raramente de nos conformarmos com aquilo que verdadeiramente somos e temos. Ela nega que somos suficientes para nós mesmos; que podemos ser felizes com o factível, com as conquistas já consumadas. Pior é quando aceitamos a provocação da possibilidade da conquista do inconquistável, um potente combustível que alimenta e perpetua nossas maiores angústias e frustrações, assim como mantêm ativa à gigantesca indústria das ilusões e do consumo desnecessário.
É fascinante a possibilidade da conquista do impossível; do sonho que nunca foi sonhado antes; da transformação do mundo onde vivemos de acordo com nossa vontade e feição, por meio da força, poder e competição. A Competição nos induz a acreditar que demonstração de superioridade também significa a sumária destruição dos concorrentes.
E já na primeira infância, nosso temperamento é lapidado a partir de nossas emoções. Enfatiza-se o emocional e ignora-se o racional. O emocional potencializa o Ego, uma entidade virtual cujo Modus Operandi é uma obsessiva predisposição inata para classificar os verbos sempre na primeira pessoa.
Se somos insuficientes para nós mesmos, lá estarão os agentes do consumo com suas soluções mágicas e uma disposição ímpar para resolver qualquer frustração humana, a exemplo de uma espécie de cruzada filantrópica ou brigada santa, cujo papel é nos guiar em direção à felicidade, ou ao tão sonhado paraíso.
Com as modernas Técnicas de Condicionamento em Massa, cujo processo o marketing publicitário domina com perfeição, irão nos guiar com o mesmo cuidado que teriam com seus bichinhos amestrados no picadeiro de um circo. Cuidarão das nossas aspirações realçando todas as nuances do nosso querer; nutrindo nossa esperança no inalcançável. E a razão de tudo isso? Dar vazão aos produtos que saem das linhas de produção dos seus patrocinadores, sejam bens materiais, fantasias virtuais, ou apenas ilusões espirituais, e o mais importante, sempre deixando claro que tudo isso precisa ser periodicamente renovado, ou mesmo substituído.
Para as grandes corporações, sejam grupos mercantis, congregações ideológicas ou grupos sectários, o ato de vender bens de consumo, ideologias, ideias ou ideais, tem a mesma motivação e valor que teria uma dose de ópio para um dependente químico. O lucro é a menor das atrações, e, sem dúvida, a sensação de controle sobre as pessoas, a mais relevante, desafiadora e motivadora.
Soluções para qualquer problema existencial do homem é tudo que alegam ter. Mas se engana quem pensa que estão interessados em nossa qualidade de vida. Pelo contrário, seu interesse é criar mais frustração, dependências, necessidades inexistentes ou objetivos inalcançáveis. Motivo pelo qual, o processo de Lavagem Cerebral ou Remodelação Mental, sempre feito de maneira discreta e silenciosa, começa tão cedo. É como o veneno que mata aos poucos, mas sempre proporcionando à vítima uma agradável sensação de bem estar após cada dose inoculada ou ingerida.
De olho no desejo, nunca publicamente revelado, que existe dentro de cada indivíduo de tornar-se importante, criaram um protocolo social conhecido como Status. Sua função dentro do marketing de vendas? Suprir essa grande carência humana, ou seja, criar os meios necessários para que o indivíduo seja capaz de conquistar e potencializar seu Pedigree Social ou força presencial, de modo que venha a se destacar e realçar sua importância em meio aos demais, e sempre a partir da ostentação. Um enquadramento apenas viável após a conquista de certos atributos ou Símbolos possíveis de serem Comprados.
Conhecedores profundos do tamanho do vazio existencial de cada homem, já que a maior parte deste repertório de angústias saiu de suas linhas de produção, reduziram a vontade de viver ao simples desejo de comprar, vir a ser, ter e acumular. Daí a importância da Criação de Objetivos Móveis, Voláteis, Renováveis; metas desnecessárias, e evidentemente, inatingíveis.
Ser útil é sentir-se livre; livre para fazer o que demandaria nosso discernimento, caso tivéssemos algum. Ocorre que não o temos. Nosso modelo de discernimento também é uma cria das centrais de condicionamento enclausuradas dentro de cada mesologia. Não há saída; sua influência ou tentáculos estão por toda parte, desde as prateleiras dos supermercados, até o interior dos locais destinados à nossa reflexão, consolo ou arrimo espiritual.
E o ato de refletir tornou-se coisa rara. Agora o sujeito é incitado a agir sem pensar, e por isso compra ou consome qualquer coisa sem precisar, na ânsia de suprir carências ou necessidades que não existem. Sem objetivos de vida consistentes e verdadeiros, este homem condicionado só é capaz de aspirar uma coisa: descobrir antecipadamente onde e quando ocorrerá a próxima grande oferta ou liquidação de produtos, pacote de tendências ou modismos com potencial para apadrinhar, realçar ou elevar a importância do seu Pedigree ou Status social, de preferência dentro do seu bioma ou gueto mesológico.