Autor: Alberto J. Grimm[1]
Atualizado: 30 de Maio de 2022
Se as posses significam mais para o indivíduo do que ele próprio, isso quer dizer que estará disposto a qualquer sacrifício para mantê-las sob sua guarda. Se o desejo de tornar-se importante tem o poder de mover o homem em qualquer direção, é do vital interesse das grandes corporações, na promoção de suas marcas e artefatos, criar processos sedutores capazes de fazer o consumidor acreditar que cada aquisição, por reflexo, o torna grande, distinto e poderoso, a exemplo da força, solidez e reputação que já possui aquela corporação por trás da grife estampada em cada um dos seus produtos.
E saindo das lojas, temporariamente feliz, cada comprador irá retornar à sua casa com o firme sentimento de que a posse daquele artefato é capaz de lhe conferir um status exclusivo, melhorar sua força presencial e incrementar seu Pedigree dentro do seu grupo de afinidades, casta ou bioma social.
Para os especialistas em Marketing das grandes corporações especializadas na promoção do consumo em massa, é uma tarefa das mais simples. Afinal de contas, eles conhecem como ninguém as carências e lacunas internas das personalidades dos seus clientes ou sectários. Não existe segredo, uma vez que cada um daqueles cérebros, agora recheados com uma lista de desejos impossível de ser atendida, foi cuidadosamente reprogramado exatamente por seus técnicos propagandistas, mestres na programação neurolinguística, Manipulação mental ou Lavagem Cerebral.
E doravante, esta presa ou consumidor sequer terá uma identidade original ou vontade própria. Mas será induzido a acreditar que tem. O engenho publicitário faz isso como estilo; é mestre em Recondicionamento ou Reprogramação Cerebral. E diante de um sujeito inseguro e carente até da própria identidade, dispõe dos meios necessários para massagear sua autoestima. Sabe o quanto ele estará disposto a pagar, ou o tamanho do sacrifício que estará disposto a fazer para sentir-se importante e longe do fantasma do ostracismo social.
Especialista em criar ilusões não alcançáveis, a publicidade se utiliza da mesma estratégia já adotada ao longo dos séculos pelo sectarismo religioso, correntes doutrinárias e ideológicas, onde a promessa de dias melhores está condicionada à crença de que sacrifícios pessoais e fidelidade com a marca, movimento ou tendência são quesitos necessários e inegociáveis.
E para isso dispõe de um sofisticado acervo de técnicas capazes de manter o infeliz consumidor sob suas rédeas pelo tempo que julgar necessário, ou o saldo de seu cartão de crédito o permitir.
Num mundo onde a vida alheia parece ter mais importância que a própria, o exibicionismo torna-se então um fator dos mais relevantes na arte de criar, manter e potencializar novos hábitos, manias e paranóias. Mas, não basta criar um novo hábito, é necessário que ele se renove periodicamente para não perder sua força. Depois de formado, quando se constata que já está consolidado como uma necessidade, ele ainda poderá se desdobrar em outros, criando novos e potenciais nichos consumidores, num ciclo autorrenovável aparentemente sem fim.
Para as grandes corporações que têm no lucro das vendas dos seus produtos uma espécie de ópio, o ganho é o termômetro do seu sucesso. No entanto, não estão interessadas em solucionar questões Fundamentais e Necessárias que poderiam ajudar o homem a se transformar em algo melhor, e sim em torná-lo ainda mais dependente do sedutor e fascinante culto e idolatria às coisas inúteis.
Se para uma maioria a aparência ou o estilo de qualquer item ofertado, sejam objetos, serviços ou ilusões representa um ativo que dá importância às suas vidas, a publicidade reforça essa crença. Faz isso ao prometer a cada indivíduo objetivos de vida semelhantes aos dramatizados no universo dos contos de fadas. Um oportuno reforço à fascinante ideia de que qualquer demanda ou desejo criado pela imaginação humana é possível de ser suprido.
Mas não basta, por meio de criativas abordagens publicitárias, seduzir o indivíduo para que venha a se tornar um voraz novo consumidor, é necessário que o mesmo se torne um aliado da própria indústria; um elemento propagador ou parceiro capaz de divulgar sem custos e de maneira apaixonada e voluntária, embora de modo inconsciente, aquela marca, grife, tendência, mania, modismo, ideia ou crença que acolheu e com a qual acaba de identificar-se.
O sentimento de inferioridade é sem dúvida um dos mais indesejáveis travões na vida de alguém sem objetivos existenciais concretos, e tem um efeito singular especialmente entre os mais jovens, onde a busca pela autoafirmação torna-se uma espécie de peregrinação ou jornada mítica digna de esforços além da compreensão humana. Assim, no processo de aliciação de novos consumidores entre o público jovem, os propagandistas se utilizam com invejável maestria deste eficaz e sedutor argumento.
A ânsia de ser o primeiro a ostentar uma novidade torna-se então uma verdadeira obsessão na vida de cada um deles. O pavor de serem deixados para trás obriga-os a tornarem-se consumidores vorazes e compulsivos diante dos novos modismos.
Ser conduzido é mais cômodo, confortável, nos proporciona uma agradável sensação de segurança; requer menos esforço e responsabilidades. Ser responsável por nossos atos nos amedronta, daí a preferência pelas fórmulas prontas, as franquias ou caminhos já traçados, assim como o arrimo de guias e gurus já consagrados. Em nossa vida, o circo midiático, faz tempo, cumpre o papel de nosso mentor, condutor e guia espiritual.
E embora o Mecanismo de Criação de Novas Necessidades tenha se especializado nas campanhas para venda de produtos duráveis, também faz incursões no campo das aquisições imateriais, a exemplo de ideologias, crenças, paranóias e alienações coletivas. O objetivo não é transformar o homem em algo melhor, e sim de torná-lo cada vez mais dependente e perpetuar sua ignorância, afinal de contas, um homem acrítico, além de mais fácil de conduzir, ainda é um excelente negócio.
É preciso grande atenção e cuidado para com nossos jovens e crianças. Educar é antes de tudo formar um jovem capaz de questionar. Questionar se tudo que bate à sua porta é de fato uma necessidade ou um simples, fútil, oportunista e passageiro modismo. Explicar desde cedo o que de fato é uma necessidade torna-se então uma função essencial no magistério de cada pai ou educador, mesmo que a adoção do princípio da dúvida ainda não faça parte de seus repertórios cognitivos.Devemos começar em casa com aquele sujeito que está diante do nosso espelho. Apenas com ele podemos efetivamente aprender sobre nossos hábitos, sejam de consumo ou outros, que a exemplo de doenças silenciosas, se ocultam nas profundezas de nossa razão. Trata-se de uma investigação onde, por meio de um exame íntimo em busca das causas que dão forma às nossas carências concretas e abstratas, vamos tentar descobrir onde está o problema. O exame de nossas carências poderá explicar as origens dos nossos planos de fuga à realidade; planos de fuga onde estão incluídos os hábitos do consumo exagerado assim como outras dependências negativas.
Rever e avaliar o tamanho da influência que exercem sobre nós as superstições, crenças patológicas, manias e alienações ideológicas, este é sem dúvida o ponto de partida. Feito isso, inspirados em nosso modelo de conduta, por meio do exemplo silencioso, onde nossos atos discretamente assumem o papel de mestre, será possível que nossos filhos, educandos e amigos mais próximos sejam capazes de vislumbrar uma nova mentalidade em ação; um modo de vida alternativo mais criativo e edificante.